Taikomochi, a versão masculina das gueixas
Taikomochi, versão masculina das gueixas
Taikomochi (太 鼓 持) ou Hokan (幇 间) como também é chamado, nada mais são do que versões masculinas das famosas gueixas. Eles surgiram no Período Edo, por volta do século 13, o que significa que foi bem antes das Onna Geisha (gueixas femininas), que surgiram bem mais tarde, em 1750 (século 18).
Assim como as gueixas, o Taikomochi ou Hokan eram artistas. Eles poderiam ser o que poderíamos chamar de “bobos da corte” e a sua função original era entreter os senhores feudais, assim como os Rakugokas, contadores de histórias.
Houkan era o nome formal e taikomochi era considerado o nome informal, que literalmente significa “Tocador de tambor”. Nem todos tocavam tambor japonês (taiko), mas assim mesmo o nome acabou se popularizando dessa forma.
No início, as apresentações do Taikomochi eram focadas principalmente na dança, mas com o passar do tempo, eles passaram a divertir os senhores feudais através de outras maneiras como participações em cerimônias do chá, como conselheiros ou como contadores de histórias engraçadas para entreter seus senhores.
Por volta do século 16, os taikomochis passaram a ser conhecidos também como Otogishu ou Hanashishu (narradores de histórias). Nessa época também passaram a atuar como consultores militares, ajudando a elaborar estratégias de guerra e até participando de batalhas, ao lado dos samurais e daimyo.
Ou seja, o Taikomochi tinha mil e uma utilidades. Se o senhor feudal (daimyo) queria se divertir, ele chamava o Taikomochi. Se precisava de alguém para lutar no campo de batalha, ele chamava o Taikomochi. Se precisava de entretenimento, conselhos de amor ou de guerra, ele chamava o Taikomochi.
O declínio do Taikomochi
A partir do século 17 no entanto, uma era de paz se instalou no Japão e o taikomochi perdeu muitas de suas atribuições. Não eram mais necessários para dar conselhos militares e nem para serem soldados em batalhas. Com isso, tiveram que concentrar suas habilidades somente em uma área: Entretenimento.
Alguns deles tiveram que trabalhar em bordeis como Oiran, um tipo de Yujo (游女), que significa “mulher do prazer” ou “prostituta”, no caso deles, o nome correto seria “garotos de programa”.
No entanto, eles se distinguem de Yujo por serem artistas e por entenderem sobre arte e moda eram vistos distintamente.
Eles ofereciam muito mais do que simplesmente sexo para seus clientes. Alguns deles eram inclusive poetas de renome e até mesmo calígrafos. Eles usavam suas habilidades de dança, canto e música para entreter seus clientes, assim como as mulheres cortesãs, fazendo desta uma nova profissão de entretenimento.
Origem verdadeira das gueixas
Com o passar do tempo, estes artistas foram apelidados de gueixa (pessoa das artes). Os gueixas masculinos (otokos gueixas) foram provavelmente os responsáveis pela popularização das gueixas femininas (onna geisha). Elas foram cada vez mais ganhando espaço, ao passo de que eles foram perdendo sua popularidade.
Por causa disso, eles foram se tornando cada vez mais raros pois as gueixas do sexo feminino acabaram assumindo o lugar que originalmente era deles em relação às habilidades artísticas, perspectivas contemporâneas e sofisticação. A eles coube apenas se tornar assistentes das aprendizes geiko (“Menina das artes”).
Quantos homens gueixas existiam antigamente?
De acordo com o livro “Gueixa: A Secreta História de um Mundo de Fuga”, de Lesley Downer, em Yoshiwara havia 16 gueixas femininas e 31 gueixas masculino em 1770. Em 1775, havia 33 gueixas femininas e 31 gueixas masculinos. Já no ano de 1800, havia 143 gueixas femininas e apenas 45 gueixas masculinos.
Durante seu auge, por exemplo, haviam 600 taikomochi no Japão. No início do século 20, gueixas de ambos os sexos entraram em declínio, a medida que aumentava a popularidade dos Maid/Butler Cafes e Host Clubs em 1920 e acelerou ainda mais com a Segunda Guerra Mundial, até restarem pouquíssimos deles.
O nome “gueixa” acabou perdendo status e respeito durante esta época pois as prostitutas passaram a se referir a elas mesmas como “gueixa” para as forças armadas americanas. Em 1944, todas as casas de chá e bares foram obrigados a fechar e todos os funcionários foram trabalhar em fábricas para ajudar na guerra.
Depois de 1 ano, foram autorizados a reabrir, mas poucos homens e mulheres acabaram retornando à antiga profissão. Embora ainda existam pequenas comunidades de gueixas em Kyoto e Tóquio, acredita-se que existam somente 5 houkans tradicionais em todo o Japão: 4 vivem em Tóquio e 1 em Kyoto.
As mulheres de hoje em dia, não tem mais interesse em se tornar gueixas e os rapazes muito menos estão interessados em se tornar taikomochi. Apesar disso, os Maids Cafés e os Hosts Clubes continuam em alta no Japão.
Os Homens gueixa nos tempos atuais
Em Tóquio vive provavelmente um dos últimos remanescentes de um Taikomochi: Eitaro, de 26 anos faz apresentações de dança para os clientes em uma festa em um barco de festa flutuante sobre o rio Sumida, em Tóquio e segue os passos de sua mãe, que faleceu há alguns anos, vítima de um câncer.
Ele mora em um “Okiya” (casa de gueixas) no distrito do Porto Omori de Tóquio, onde supervisiona outros seis artistas gueixa, incluindo sua irmã Maika. Sua mãe, sempre se dedicou para reviver a cultura geisha local e Eitaro começou a aprender danças tradicionais femininos quando ele tinha apenas oito anos.
Aos 10 anos, ele já dançava com sua mãe em apresentações e aos onze anos ele se apresentou pela primeira vez no Teatro Nacional Japonês. O Porto Omori era uma área da cultura geisha florescente no início do século 20.
Mas durante a bolha econômica dos anos 80, muitos “Okiya” (casas tradicionais de gueixas) fecharam e a maioria das propriedades foram entregues aos desenvolvedores de terra. Eitaro está tentando cumprir sua missão, que é tornar a cultura gueixa tradicional cada vez mais conhecida nesses tempos modernos.
Taikomochi Arai, o último Houkan de Kyoto
Já em Kyoto, o último remanescente é o Taikomochi Arai, que assim como Etaro também tenta manter viva a sua antiga profissão. Ele mantem um site onde compartilha com o mundo todo sobre a sua profissão. Também divulga a a cultura taikomochi através das palestras nos Centros de Cultura Asahi em Osaka e Kobe.
Além disso, ele é colunista em um jornal e tem seu próprio programa de rádio onde fala sobre a cultura de entretenimento tradicional japonesa. Ele publicou um livro chamado “Ma no Gokui” (A Essência do Tempo nas Artes Cênicas) e deu conselhos ao personagem que fazia o papel de um taikomochi no filme Nagasaki Burabura Bushi.
Muitos confundem Houkan com Hostess
Hoje em dia, existe a versão moderna do houkan, encontrados facilmente em boates de Tóquio. Mas na essência, eles são bem diferentes dos tradicionais Hokan. A meu ver, esses rapazes se enquadram mais como Hostess ou Anfitriões. Alguns deles chegam a ganhar de R$ 1.700,00 a R$ 85.000,00 por noite.
São contratados por mulheres bem sucedidas para serem os seus “acessórios”. “Eu dou às mulheres o que os homens geralmente não dão: carinho. Elas nos vêem como um de seus acessórios.”, disse Yunosuke de 24 anos. Hoje em dia, muitas mulheres ganham muito dinheiro e consequentemente se permitem a esses luxos. Pra elas, é quase a mesma coisa que gastar em uma viagem, por exemplo.
Mas sobre isso, nos aprofundaremos mais tarde em outra oportunidade. A intenção deste artigo foi mostrar que as primeiras gueixas foram homens, mesmo sendo chamados por outro nome… Espero que tenham gostado do artigo e se puderem, comentem o que acharam sobre mais esta curiosidade do Japão. 🙂
Fonte de pesquisa: Tofugu, Japan Daily, The Keep
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