Símbolos Xintoístas e seus significados
Xintoísmo é o nome dado à religião nativa japonesa. Conheça alguns dos principais símbolos xintoístas vistos nos santuários do Japão e os seus significados.
A religião japonesa chamada xintoísmo pode parecer um mistério para muitos não-japoneses. De fato, mesmo para os japoneses, existem muitos aspectos do xintoísmo que não são bem compreendidos, particularmente o significado por trás dos vários símbolos xintoístas.
Aprender um pouco sobre o xintoísmo nos levará a muitas perguntas: Por que os icônicos portões torii (鳥居) costumam ser vermelhos? Qual o significado por trás das decorações de papel em forma de raio ou ziguezague? E por que costumamos ver cordas enroladas em árvores?
Hoje estaremos mergulhando no mundo do xintoísmo, discutindo seus antecedentes e os significados ocultos por trás de alguns dos símbolos mais marcantes do xintoísmo.
O que é xintoísmo?
Antes de entrarmos no significado por trás de alguns dos principais símbolos xintoístas, vamos repassar alguns dos conceitos básicos ligados ao xintoísmo para obter uma melhor compreensão da religião (se é que podemos chamá-la assim).
Como qualquer religião, é difícil definir concisamente o xintoísmo em poucas palavras, no entanto, uma característica marcante é a adoração politeísta por “kami”, que significa “deuses ou espíritos que existem em todas as coisas”.
Por causa dessa crença de que os kami residem em todas as coisas da natureza – como montanhas, árvores, cachoeiras, etc – o xintoísmo também é classificado como uma religião animista, que adora a natureza ou os espíritos da natureza. Outro termo usado para descrever o xintoísmo (神道) é “kami-no-michi”, ou “o caminho dos deuses”.
Ao contrário de algumas religiões, não há um livro sagrado e nem uma autoridade central que dite as regras e regulamentos do xintoísmo e, como resultado, as práticas podem variar muito de região para região e até mesmo entre santuários vizinhos.
Símbolos xintoístas
Agora que você sabe um pouco sobre o xintoísmo, vamos dar uma olhada em alguns dos seus símbolos mais notáveis e os significados por trás deles. Os seis símbolos xintoístas que abordaremos hoje são ” torii “, ” shimenawa “, ” shide “, ” sakaki “, ” tomoe ” e ” shinkyo “.
Portões Torii, a entrada para santuários xintoístas
Imagem: photo-ac.com
Talvez os símbolos mais reconhecíveis do xintoísmo sejam os majestosos portões que marcam a entrada dos santuários xintoístas. Feitos de madeira ou pedra, esses portões de dois postes são conhecidos como “torii” e mostram os limites em que um kami vive.
O ato de passar por um torii é visto como uma forma de purificação, o que é muito importante ao visitar um santuário, pois os rituais de purificação são uma função importante no xintoísmo.
Depois de aprender sobre o que são os torii, é natural se perguntar por que tantos são pintados com um tom tão vibrante de vermelho (ou laranja). No Japão, a cor vermelha é representativa do sol e da vida, e também dizem que afastam maus presságios e infortúnios.
Ao passar pelo torii, os visitantes de um santuário são limpos de qualquer energia ruim, garantindo que apenas a energia boa seja trazida para o Kami que reside no local.
A cor vermelha é também a cor da laca que tradicionalmente tem sido usada para revestir a madeira do torii e protegê-la contra as intempéries e elementos naturais.
Imagem:photo-ac.com
Dito isto, nem todos os torii são vermelhos. Há uma variedade de torii feitos de madeira sem laca, pedra (geralmente de cor branca ou cinza) e até metal. Além de existir um grande número de variações de cores, eles podem ser de várias formas (algo em torno de 60 variedades).
Os dois tipos mais comuns, no entanto, são “myojin” e “shinmei” torii. Myojin torii são curvados para cima em suas extremidades e possuem uma travessa que se estende além dos postes. Shinmei torii, no entanto, tem um topo reto e uma travessa que termina em cada poste.
Alguns dos Torii mais reconhecidos do Japão
Imagem: Depositphotos
Ao falar de torii, talvez o local mais famoso seja o Santuário Fushimi Inari de Kyoto. Este santuário icônico abriga literalmente milhares de portões torii laranja que terminam na montanha.
Outro torii muito famoso pode ser encontrado no Santuário Itsukushima em uma ilha chamada Miyajima. A apenas 40 minutos da cidade de Hiroshima, este majestoso torii é espetacular pois parece flutuar no mar durante a maré cheia.
O Santuário Oarai-Isosaki, na província de Ibaraki, abriga outro torii icônico que fica em um afloramento rochoso na costa. Este torii é simples, mas bonito, principalmente ao pôr do sol ou quando o mar turbulento envia ondas que batem na rocha onde fica o torii.
Santuário Yasukuni. Imagem: Depositphotos
Já na capital japonesa, Tóquio, um dos torii mais icônicos está localizado no polêmico Santuário Yasukuni. O torii é de metal maciço e apesar de ter um design simples, chama a atenção pela sua grandiosidade pois possui 25 metros de altura.
Um dos portões torii mais fotografados no Japão está no Santuário Hakone em Hakone, província de Kanagawa. O portão fica submerso no Lago Ashi, perto do sopé do Monte Fuji. Este torii é tão popular que para tirar uma foto geralmente é preciso esperar na fila por mais de duas horas.
O Santuário Mitsumine, na Província de Saitama não só oferece um cenário incrível, situado nas montanhas ao redor da cidade de Chichibu, como também abriga um belo portal triplo, que é raro de ser encontrado no Japão, que além disso, é adornado com detalhes em ouro.
Shimenawa, a corda sagrada do xintoísmo
Imagem: photo-ac.com
“Shimenawa” são cordas, muitas vezes adornadas com ornamentos brancos em forma de ziguezague. Eles podem variar muito em tamanho e diâmetro, com alguns não muito mais do que alguns fios, enquanto outros são maciços e grossos! Shimenawa são normalmente usados para marcar os limites do espaço sagrado e dizem que afastam os maus espíritos.
Eles são frequentemente vistos pendurados no torii, enrolados em árvores e rochas sagradas (dentro das quais se diz que os kami residem), ou até mesmo presos em torno da cintura de grandes lutadores de sumô!
Essas árvores especiais, rochas e “yokozuna” (grandes campeões de sumô) são conhecidas como “yorishiro”, significando algo que atrai deuses ou tem um deus vivendo dentro deles.
Shide, papéis brancos em ziguezague
Imagem: photo-ac.com
Um item em particular que você pode notar ao caminhar nas instalações de um santuário são os papéis brancos em ziguezague, muitas vezes pendurados no shimenawa mencionado acima.
Eles podem ser encontrados em todo lugar dentro de um santuário e são frequentemente usados para demarcar os limites de um espaço sagrado ou fronteira dentro do mesmo.
Essas decorações em forma de raio são chamadas de “shide” e também são usadas em uma variedade de cerimônias de purificação. Se você for na hora certa, poderá até ver shide anexado a varinhas especiais usadas pelos sacerdotes xintoístas que realizam as cerimônias.
Imagem: photo-ac.com
Existem duas teorias do por que o shide tem a forma de raio. Uma afirma que se refere ao poder infinito dos deuses, e outra sugere que, como chuva, nuvens e relâmpagos são elementos de uma boa colheita, trata-se de uma oração aos deuses para pedir fartura e abundância.
Há uma variedade de diferentes varinhas adornadas com shide usadas no xintoísmo, com diferenças sutis entre elas em termos de estilo, tais como “gohei” e “haraegushi.”
As sacerdotisas xintoístas chamadas de “miko”, usam a varinha gohei com dois shide anexados em rituais e cerimônias que podem ser usadas para abençoar pessoas, mas o objetivo principal é abençoar objetos ou então purificar lugares sagrados de toda energia negativa.
Já a haraegushi é usada para o mesmo propósito de limpeza, mas sob circunstâncias diferentes. Um sacerdote xintoísta o sacode ritmicamente sobre uma pessoa ou objetos recém-obtidos por uma pessoa, como uma nova casa ou carro para realizar este ritual de purificação.
Sakaki, a árvore sagrada do xintoísmo
Imagem: photo-ac.com
Como mencionado anteriormente, a natureza é um elemento-chave do xintoísmo e as árvores desempenham um papel particularmente importante. Certos tipos de árvores são consideradas sagradas e são conhecidas no Japão como “shinboku” (神木).
Não muito diferente dos torii, essas árvores, que cercam um santuário, criam uma cerca sagrada onde se supõe que a área interior a esta cerca viva é considerado um espaço purificado.
Embora existam alguns tipos de árvores que são consideradas sagradas, talvez não haja nenhuma mais importante do que sakaki, uma árvore perene nativa do Japão. As árvores sakaki são comumente encontradas plantadas em torno de santuários para atuar como uma cerca sagrada, e um ramo de sakaki às vezes é usado como oferenda aos deuses do santuário.
Uma das razões pelas quais as árvores sakaki são consideradas sagradas no xintoísmo tem a ver com o fato de serem árvores centenárias e, portanto, simbolizam a imortalidade. Outra razão mais importante está ligada a uma lenda em que uma árvore sakaki foi decorada para atrair Amaterasu a deusa do sol, para fora de seu esconderijo que ficava dentro de uma caverna.
Este mito (descrito com mais detalhes na seção shinkyo abaixo) dá um simbolismo especial às árvores sakaki, nas quais são celebradas em rituais xintoístas até os dias de hoje.
Tomoe, as vírgulas giratórias
Imagem: photo-ac.com
“Tomoe” (巴) pode lembrar o conhecido símbolo yin-yang da China. No entanto, o significado e o uso são bem diferentes. Tomoe, muitas vezes traduzido como “vírgula”, era comumente usado em brasões japoneses chamados “mon”, e, como tal, tomoe é associado à classe samurai.
O Tomoe pode apresentar duas, três ou até quatro vírgulas em seu design. O “mitsu-domoe” de três vírgulas, no entanto, é o mais comumente usado no xintoísmo e diz-se que representa a interação dos três reinos da existência: o céu, a terra e o submundo.
Fique de olho nos tomoe e você os verá sendo usados para decorar muitas coisas, desde tambores taiko e amuletos de proteção a lanternas e telhados de estilo japonês!
Shinkyo, o espelho do deus xintoísta
Imagem: photo-ac.com
O “shinkyo” (魔鏡), ou “espelho dos deuses”, é um objeto místico que diz conectar nosso mundo ao reino espiritual. Shinkyo pode ser visto exibido em altares xintoístas como um avatar do kami, a ideia é que o deus entrará no espelho para interagir com o nosso mundo.
Essa crença remonta a uma lenda envolvendo a deusa do sol japonesa, Amaterasu, que uma vez se escondeu em uma caverna, mergulhando o mundo na escuridão. A fim de persuadi-la a sair da caverna, vários outros deuses se reuniram do lado de fora da caverna e deram uma festa.
Os deuses penduraram joias e um espelho em uma árvore sakaki para chamar a atenção de Amaterasu caso ela olhasse para o lado de fora da caverna. Curiosa com os barulhos festivos, Amaterasu espiou para fora da caverna e perguntou o que estavam comemorando.
Em resposta, ela foi informada de que havia uma deusa ainda mais bonita que ela fora da caverna. Ao sair da caverna, ela foi recebida pelo espelho e seu próprio reflexo, momento em que os outros deuses aproveitaram a oportunidade para selar a caverna com um shimenawa.
Mais tarde, este mesmo espelho foi dado ao neto de Amaterasu, que deveria para adorá-lo como se fosse a própria Amaterasu. Desta forma, não se reza necessariamente para um shinkyo, mas sim para o kami daquele santuário para o qual o espelho está agindo como um avatar físico.
O shinkyo é considerado um “shintai” (corpo do kami), ou seja, uma espécie de substituto físico no qual o kami pode habitar no reino humano. Geralmente são objetos adorados em santuários xintoístas como repositórios nos quais os espíritos ou kami residem.
Imagem: photo-ac.com
A propósito, a caverna descrita na lenda é na verdade um lugar real, agora chamado de Santuário Amanoyasugawara, na província de Miyazaki. É um pouco fora dos roteiros mais conhecidos, mas é um lugar muito legal para visitar quando você conhece essa história.
Como deu pra perceber, o xintoísmo é algo bem abrangente e complexo. São muitas nuances que são difíceis de abordar em um único artigo. Mas espero que você tenha apreciado nossa abordagem sobre alguns dos símbolos mais icônicos encontrados em santuários xintoístas.
É muito interessante também conhecer um pouco sobre a mitologia japonesa e entender que ela é a essência da religião nativa japonesa. Com esses conhecimentos, mesmo que superficiais, sua visita a um santuário se tornará uma experiência muito mais completa e especial.
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