Por que o Japão é tão obcecado com a pontualidade?
A pontualidade é talvez uma das principais razões pelas quais, Tóquio, de alguma forma, consegue manter um impressionante senso de ordem e funcionar tão bem.
Um tipo de notícia do Japão que sempre causa espanto no mundo ocidental é sobre “incidentes” envolvendo atrasos ou adiantamentos no sistema ferroviário japonês. Em uma ocasião, um porta-voz de uma empresa ferroviária emitiu um comunicado como “verdadeiramente imperdoável” o fato de um trem da empresa partir de uma estação 25 segundos antes do previsto.
A situação provocou uma enxurrada de desculpas por parte da empresa, além da equipe passar por um treinamento rígido para evitar que isso aconteça novamente.
A própria noção de um pedido de desculpas por um trem que se antecipou 25 segundos em sua partida – em oposição a um trem atrasado, que é mais comum na nossa realidade, – é sem dúvida um conceito estranho para quem vive no Brasil ou até em outros lugares do globo.
No entanto, esse tipo de incidente lança uma luz sobre uma das preocupações mais conhecidas da sociedade japonesa – sua obsessão de longa data com a pontualidade.
Imagem: depositphotos.com
O Japão é conhecido como uma nação imersa em seus próprios rituais, peculiaridades e costumes únicos – desde a curvatura da cabeça ao cumprimentar as pessoas e as regras rígidas que determinam onde você pode usar sapatos ou como tomar banho, até passageiros que não podem abrir ou fechar as portas dos táxis (porque isso é trabalho do motorista).
Mas um elemento particularmente desconcertante da vida japonesa é a atenção meticulosa da sociedade à pontualidade – incorporada por todo o sistema de transporte do país, que é tão pontual que normalmente você pode saber as horas por suas chegadas e partidas.
Os trens que chegam atrasados são tão incomuns no Japão que, quando acontece, normalmente há uma suposição imediata das pessoas de que houve um terremoto ou um suicídio nos trilhos.
Sem esquecer o fato de que os funcionários ferroviários entregam um comunicado por escrito aos passageiros, para que possam entregá-las a seus chefes para explicar seu atraso.
Foi o que aconteceu com o episódio do trem “precoce” que citamos anteriormente que se desenrolou quando um trem das 7h12 da estação de Notogawa, em Shiga, partiu às 7h11 e 35 segundos, horário considerado de pico já que muitas pessoas estavam indo trabalhar.
Uma investigação interna da West Japan Railway Company concluiu que o fato ocorreu devido a um equívoco do condutor que o fez fechar as portas prematuramente. Embora o incidente não tenha tido impacto em outros horários, um passageiro reclamou depois de perder o trem.
Talvez ainda mais surpreendente seja o fato de que este não foi um incidente isolado: em 2017, por exemplo, outra empresa ferroviária japonesa passou pelo mesmo e pediu desculpas publicamente depois que um trem saiu de uma estação 20 segundos antes do previsto.
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É difícil superestimar a importância da pontualidade na sociedade japonesa – uma qualidade que complementa perfeitamente uma série de outras características consideradas tipicamente japonesas tais como como “esforçada”, “disciplinada” e “respeitosamente ordeira”.
As crianças japonesas são treinadas desde tenra idade sobre a importância da pontualidade. Isso é refletido na fase adulta, onde podemos perceber que grande parte dos funcionários de escritório costumam chegar ao trabalho mais cedo diariamente para evitar possíveis atrasos.
A pontualidade é talvez também uma das principais razões pelas quais Tóquio – apesar de suas dimensões de megalópole e status de uma das cidades mais densamente povoadas do planeta – de alguma forma consegue manter um impressionante senso de ordem e funcionar tão bem.
A pontualidade japonesa é certamente algo que pode impactar muitos ocidentais no início quando resolvem morar na Terra do Sol Nascente. Mas apesar da “adaptação”, com certeza este é um aprendizado positivo que trazemos na bagagem quando retornamos ao nosso país.
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