Pedras do Tsunami: Um lembrete ancestral deixado para as futuras gerações


Pedras centenárias de Aneyoshi são um lembrete sobre os perigos de um tsunami]

De acordo com um provérbio japonês, “um desastre natural sempre ocorre quando o último é esquecido”. Esse é o recado das Pedras dos Tsunami às futuras gerações.

Centenas de “pedras do tsunami” pontilham as encostas costeiras do Japão. Datadas de décadas ou mesmo séculos atrás, elas relembram desastres passados ​​e alertam os moradores sobre desastres futuros. Elas são chamadas de Otsunami Kinenhi (大津浪記念碑).

Demora cerca de três gerações para as pessoas esquecerem. Aqueles que vivenciam o desastre passam para seus filhos e netos, mas depois a memória desaparece“, disse Fumihiko Imamura, professor de planejamento de desastres da Universidade de Tohoku.

Ao longo dos séculos, as pedras do tsunami eram uma forma de alertar as gerações futuras sobre os perigos potenciais provenientes de morar e construir perto do mar. Infelizmente, hoje muitos desses monumentos estão se decompondo lentamente, cobertas por vegetação e esquecidas.

Pedras centenárias de Aneyoshi são um lembrete sobre os perigos de um tsunamiImagem: Wikimedia Commons

Um dos monumentos mais emblemáticos remonta à década de 1930 e está localizado na vila de Aneyoshi, cidade de Miyako, província de Iwate. Nele está escrito: “Não construa nenhuma casa abaixo deste ponto”. O texto continua: “As moradias altas são a paz e a harmonia dos nossos descendentes. Lembre-se da calamidade dos grandes tsunamis.

Depois que a vila foi devastada pelo tsunami de 1896, foi reconstruída no mesmo local. Mas quando outro tsunami ocorreu em 1933, a vila foi movida para cima. A pedra do tsunami foi colocada após o desastre e é creditada por salvar a cidade em 1960 e novamente em 2011.

A vila de Aneyoshi mudou-se para uma colina em uma pequena terra plana nas montanhas após o tsunami de Showa Sanriku em 1933. (Imagem:.iwate-np.co.jp)

Tamishige Kimura, morador de Aneyoshi, elogia seus antepassados ​​por colocarem um marcador de pedra com o alerta de perigo. “Eles conheciam os horrores dos tsunamis, então ergueram aquela pedra para nos alertar”, disse ele ao New York Times em 2011. Kimura descreve seu alerta como “uma regra de nossos ancestrais, que ninguém em Aneyoshi ousa quebrar”.

Muitas pedras do tsunami datam ainda mais longe do que a de Aneyoshi, tendo sido erguidas até 600 anos atrás. Alguns apresentam avisos para procurar terrenos mais altos após um terremoto. Outros informam os números de mortos de um desastre ou marcam valas comuns.

Algumas das inscrições nas “pedras do tsunami” mais antigas como a de 600 anos dizem: “sempre esteja preparado para tsunamis inesperados. Escolha a vida em vez de suas posses e valores“, ou “se ocorrer um terremoto, cuidado com os tsunamis“.

Outras denotam nomes de lugares com mensagens claras, como Nokoriya (Vale dos Sobreviventes) e Namiwake (Limite das Ondas). Em todo o país, outras cidades do litoral ignoraram esses avisos históricos ao longo do tempo e muitos sofreram com isso.

Algumas pedras chegaram até a serem levadas pelo último tsunami (2011), apresentando um alerta duplo implícito: (1) a água sempre pode subir mais alto e (2) mesmo pedras maciças de três metros de altura podem não resistir à fúria das grandes ondas de um tsunami.

Como sabemos, o terremoto de Tohoku de magnitude 9,0 e o subsequente tsunami mataram mais de dezoito mil pessoas, devastaram o nordeste do Japão, provocaram o colapso na usina de Fukushima, e custou estimados duzentos e vinte bilhões de dólares.

O Japão é um país com uma longa história de terremotos e tsunamis catastróficos. Situada acima da zona de colisão de quatro placas tectônicas, os movimentos contínuos das placas acumulam muita energia, liberada de tempos em tempos como um terremoto.

Se o terremoto ocorrer no fundo do mar, a mudança repentina do fundo do oceano provoca o deslocamento de um grande volume de água, rolando em direção às costas mais próximas.

À medida que as ondas do tsunami se propagam em direção à costa, elas acabam se quebrando formando uma espécie de parede hidráulica. Essa “parede de água” sobe a área costeira de baixa altitude, inundando, esmagando e achatando tudo em seu caminho.

Hoje, alguns veem as próprias pedras como ultrapassadas, resquícios de uma era pré-digital. O Japão moderno possui uma rica variedade de sistemas de alerta de alta tecnologia. Também possui rotas de evacuação bem marcadas e paredões altos em locais importantes.

Muitos monumentos do tsunami estão abandonados ao longo da costa, mas podem ser deixadas como estão para servir como memoriais e lembretes. Algumas pedras novas foram feitas após o desastre de 2011, mas principalmente como memoriais, e não como marcadores de alerta.

Seja como for, a intenção é válida: deixar um recado para as gerações futuras de não ignorar as lições de seus ancestrais. Tecnologia e preparação podem ajudar, mas prevenir novos incidentes construindo em locais onde as ondas não alcançam é ainda a forma mais segura.

Fontes: Forbes, 99percentinvisible.org
Imagem do topo: Wikimedia Commons

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