Por que os japoneses apreciam tanto os vaga-lumes?
Fotos impressionantes capturam a magia dos Vaga-lumes no Japão
A chegada do verão pode criar diferentes expectativas. Muitos de nós aguardamos esta estação com ansiedade pois é a oportunidade de irmos à praia, acampar, escalar montanhas ou fazer qualquer outra atividade ao ar livre. Ou então de nos rendermos ao kakigori e outras delícias de verão. Mas para um seleto grupo de fotógrafos, o verão sinaliza a chegada dos vaga-lumes.
É nas noites quentes e úmidas de verão (maio e junho) que ocorre o acasalamento e a reprodução desses insetos, que ocorre em florestas, riachos e áreas rurais no Japão. As luzes são utilizadas pelos machos para atrair as fêmeas e o efeito criado é espetacular. E os fotógrafos partem em busca desses locais para registrar esses momentos pra lá de mágicos.
Imagem: Depositphotos
Com o equipamento correto, além de muita paciência e precisão, os fotógrafos conseguem capturar pontos de luz que são impossíveis de serem vistos a olho nu. Para conseguir tal efeito é necessário manter o obturador da câmera em uma velocidade baixa, para que assim possa capturar cada ponto de luz brilhante ou capturar o rastro do voo dos vaga-lumes.
Imagem: photo-ac.com
Por que os japoneses apreciam tanto os vaga-lumes?
No Japão, as duas espécies mais comuns são o Genji-botaru e o Heike-botaru. O arquipélago japonês tem grande abundância de rios, pântanos e campos de arroz irrigados que são excelentes habitats para os vaga-lumes. Desta forma, desde os tempos antigos, as pessoas que moravam em vilarejos tinham o costume de apreciar a bioluminescência desses insetos.
Se você costuma assistir filmes de animação japoneses, deve ter percebido a presença desses insetos em muitos dos cenários. Um exemplo é Hotaru no Haka (Túmulo dos Vagalumes), um anime que marcou muitas pessoas. Já na literatura japonesa, a primeira aparição ocorreu no final do século 8, na obra Man’yōshū, a mais antiga coleção de poesias do Japão.
Imagem: Depositphotos
Nos velhos tempos, havia uma crença de que as luzes dos vaga-lumes representavam as almas dos mortos. No período Edo, um passatempo das crianças eram capturar vaga-lumes, enquanto desfrutavam o ar fresco da noite. Muitas xilogravuras Ukiyoe mostram objetos usados para capturá-los, tais como leques, redes ou armadilhas feitas de grama de bambu.
Imagem: Depositphotos
Em 1700, este costume se intensificou e passou a atrair pessoas de todas as idades. No início do verão, barcos chamados de hotaru-bune faziam pequenas excursões em rios, levando as pessoas para locais onde pudessem aprecia-los. Isso era muito comum em Seta e Ishiyama, distritos de Otsu (atual província de Shiga) e também no distrito de Uji, subúrbio de Kyoto.
No entanto, as cidades foram se expandindo e o número de vaga-lumes caiu drasticamente. A caça indiscriminada também colocou em risco a vida da espécie Genjibotaru e por esta razão o governo designou em 1924 que Moriyama, um distrito na província de Shiga, se tornaria um habitat protegido, sendo registrado tempos depois como Monumento Natural de Shiga.
Imagem: photo-ac.com
Com o boom econômico, que começou na década de 1960, a população de vaga-lumes encolheu ainda mais devido ao desenvolvimento urbano, poluição e alterações nos leito dos rios, assim como a construção de diques para prevenir enchentes. Hoje em dia, muitos lugares no Japão tentam proteger, restaurar e até criar novas áreas de habitat para os vaga-lumes.
Imagem: Depositphotos
É bem provável que o Japão seja o único país no mundo a implementar uma legislação que protege os vaga-lumes. Mas isso não surpreende, afinal esses pequenos bichinhos fluorecentes têm conquistado o coração do povo nipônico há muitas gerações, estando presente inclusive em antigas canções de ninar que continuam populares mesmo nos dias atuais.
Imagem: photo-ac.com
Se antigamente as pessoas gostavam de capturá-los, hoje em dia a maioria se contenta em apenas apreciar suas luzes brilhantes, que mais se assemelham a lanternas flutuantes em meio a escuridão da noite. Realmente um cenário de tirar o fôlego não acha? 🙂
5 Comentários