Fazendeiro mora literalmente no meio do segundo maior aeroporto do Japão


Fazendeiro mora no meio do segundo maior aeroporto do Japão

O som de aviões decolando e pousando ao lado da sua casa é ensurdecedor, mas para o teimoso fazendeiro japonês este é o único lugar onde vale a pena morar.

A família de Takao Shito cultiva vegetais na mesma fazenda há mais de 100 anos. Seu avô era fazendeiro, seu pai também, e agora é ele que ocupa o mesmo ofício dos seus ancestrais, exceto pelo fato de Takao estar enfrentando uma situação não vivida por seus antecessores.

Antigamente, a fazenda de Shito fazia parte de uma vila de cerca de 30 famílias de camponeses. Hoje sua solitária fazenda está localizada literalmente no meio do Aeroporto de Narita, o segundo maior aeroporto do Japão. Jatos voam sobre sua cabeça 24 horas por dia, e a única maneira de sair e voltar para casa é atravessando túneis subterrâneos.

Morar em um aeroporto não deve ser uma experiência agradável e a maioria das pessoas cogitaria a ideia de se mudar, mas Takao Shito não. Ele luta para manter sua fazenda há mais de duas décadas e até recusou uma oferta de mais de 180 milhões de ienes por suas terras.

Crédito da foto: ISTANBUL HAVACILIK KULUBU 1995 UYE GRUBU

Estes são pedaços de terra cultivados por três gerações durante quase um século, por meu avô, meu pai e eu. Quero continuar morando aqui e cultivando ”, disse Shito à AFP.

O pai de Takao, Toichi, era um dos mais fervorosos de um punhado de fazendeiros que vinham impedindo os planos do governo de expandir o aeroporto de Narita desde os anos 1970. A maioria dos outros fazendeiros da área foi convencida a vender suas terras por meio de incentivos financeiros, mas Toichi Shito não cedeu por nenhum dinheiro que foi oferecido.

Crédito da foto: ISTANBUL HAVACILIK KULUBU 1995 UYE GRUBU

A convicção que seu pai tinha de não abandonar suas terras marcou a infância de Takao, e quando o velho fazendeiro faleceu aos 84 anos de idade, Takao resolveu largar seu emprego no ramo de restaurantes e voltou para a fazenda da família para continuar a luta.

Desde então, Takao está constantemente envolvido em batalhas legais para impedir que as autoridades o expulsem das terras que seu pai e avô cultivaram há mais de 1 século. É cansativo, assim como trabalhar na própria lavoura, mas ele não tem intenção de recuar.

Sua luta tem ganhado os holofotes nos últimos anos e se tornou um símbolo dos direitos civis, e centenas de voluntários e ativistas se reuniram para apoiá-lo ao longo dos anos.

Crédito da foto: ISTANBUL HAVACILIK KULUBU 1995 UYE GRUBU

Recebi uma oferta em dinheiro com a condição de deixar minha fazenda”, disse Takao à BBC. “Eles ofereceram 180 milhões de ienes. Isso equivale a 150 anos do salário de um fazendeiro. Não estou interessado em dinheiro, quero continuar cultivando. Nunca pensei em sair. ”

O Aeroporto de Narita, localizado em Chiba, é o principal portal internacional de Tóquio, onde ocorre cerca de 250.000 voos por ano e é o segundo mais movimentado do Japão (depois do Aeroporto de Haneda), movimentando cerca de 40 milhões de passageiros.

Sua segunda pista deveria passar pelas terras de Takao Shito, mas por causa dos problemas legais, ela agora circunda a fazenda dele. O aeroporto tem comprado terras de outros agricultores menos teimosos, mas Shito continua irredutível em sua decisão.

Em 20 de dezembro de 2018, o Tribunal Local de Chiba proferiu uma decisão injusta que permitia a execução compulsória das terras de Takao, mas felizmente no dia seguinte, ele ganhou outra decisão judicial que ordenou a suspensão temporária do processo de execução compulsória até o início do julgamento no Tribunal Superior de Tóquio, no ano seguinte.

Takao Shito ainda está cuidando de sua fazenda orgânica no meio do aeroporto de Narita e vendendo produtos frescos para cerca de 400 clientes. A pandemia do Covid-19 não o afetou negativamente, muito pelo contrário, tornou mais fácil viver em um dos maiores aeroportos do mundo. A queda no tráfego aéreo tornou o ar mais limpo e sua casa mais silenciosa.

Confira a reportagem sobre ele realizada pelo BCC:


Link do vídeo (YouTube)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *