15 fatos que você provavelmente não sabia sobre o Conto de Genji


Curiosidades sobre Genji Monogatari

Genji Monogatari (O Conto de Genji) é considerado o romance mais antigo do Japão. Confira alguns fatos a respeito dessa obra clássica da literatura japonesa:

Você sabe qual é o romance mais antigo do Japão? Trata-se de Genji Monogatari (源氏物語) que em tradução para o português significa “O Conto de Genji” é uma obra clássica da literatura japonesa de autoria atribuída à fidalga Murasaki Shikibu e escrito no começo do século XI, durante o Período Heian. É considerado o primeiro romance literário do mundo.

Inúmeros autores modernos a têm citado como inspiração. A obra é conhecida pela sua consistência interna, descrição psicológica, e caracterização dos personagens. O romancista Yasunari Kawabata disse em seu discurso de aceitação do Prêmio Nobel:

“Genji Monogatari é, em particular, o ponto mais alto da literatura japonesa. Até hoje não existiu uma peça de ficção comparável a ele“.

Este livro clássico da literatura japonesa é um item obrigatório na maioria das escolas secundárias japonesas. Além disso, Genji Monogatari foi adaptado em muitas formas de mídia, de dramas a filmes e animes. Se você já ouviu falar mas tem curiosidade de saber mais a respeito de O Conto de Genji (源氏物語), confira abaixo algumas curiosidades sobre a obra.

1. O Conto de Genji é considerado o romance mais antigo do Japão

 匂宮 Niō no Miya (“The Perfumed Prince”). Tosa Mitsuoki.

Diz-se que foi estabelecido durante o auge do período Heian. A primeira cópia foi encontrada em 1008. Qualquer tipo de literatura naquela época foi copiado à mão, então é difícil apontar qual é a cópia original. Essas cópias são chamadas de shahon (写本).

Sua autoria é atribuída à nobre japonesa Murasaki Shikibu. A forma da linguagem usada na época é chamada de Língua japonesa antiga tardia, chamada em japonês de Chūko nihongo (中古日本語). Os poemas em Genji no Monogatari são na forma de tanka.

O Conto de Genji é às vezes chamado o primeiro romance do mundo, o primeiro romance moderno, ou o primeiro romance a ser considerado um clássico. O acadêmico cultural japonês Motoori Norinaga usou pela primeira vez o termo Mono no aware em sua revisão do livro. Este termo nos dias de hoje é considerada importante para entender a literatura japonesa.

2. Consiste em 54 pergaminhos

Páginas do pergaminho ilustrado do século XII

O conto de Genji consiste em 54 pergaminhos, baseados no personagem principal, Hikaru Genji (光源氏). Apesar de não ser unânime entre os pesquisadores, essa dedução foi baseada nas buscas pelos dispersos pergaminhos e literatura japonesa em todo o Japão.

Esses 54 capítulos são divididos em três partes, os dois primeiros tratando sobre a vida de Hikaru Genji até sua morte (Capítulos 1 a 44), e o último (capítulos 45 a 54) lidando com os primeiros anos de dois dos descendentes proeminentes de Genji: Niou e Kaoru.

3. Consiste em um milhão de palavras

Como você pode ver pelo número de pergaminhos, o Conto de Genji é uma longa história. Existem mais de 500 personagens na história. A história é contada ao longo de um período de 70 anos. E cerca de 800 Waka (poemas japoneses – 和歌) aparecem.

4. A história é sobre a ascensão e queda, e a vida amorosa muito dramática de um rei chamado Hikaru Genji (光源 氏)

Kiritsubo (The Paulownia Court), o magnífico infante Príncipe Genji é apresentado ao Imperador

Hikaru (光) significa luz, e Genji (源氏) é um dos sobrenomes da realeza. É dito na história que Hikaru Genji era tão bonito que parecia brilhar. A história segue o destino dele e de seus descendentes e, muitas vezes, suas vidas amorosas muito dramáticas.

5. A mãe de Hikaru Genji morreu quando ele tinha 3 anos

横笛Yokobue (“Flauta”). Museu de Arte de Tokugawa

Agora, há uma necessidade de explicar como o palácio funcionou naquela época no período Heian. A pessoa mais poderosa do palácio real é o Tennou (天皇). Os Tennou tinham várias amantes que eram muitas vezes filhas dos aristocratas que trabalhavam no palácio.

Por ter filhos com essas aristocratas, os Tennou garantiam o futuro da família dessas jovens. No entanto, o Tennou, chamado Kiritsubo Tei (桐壷帝), se apaixonou profundamente pela mãe de Hikaru Genji, a Kiritsubono Koui (桐壷更衣), que era de classe social mais baixa.

O Imperador a favorecia sobre todas as outras damas, que passaram a intimida-la e importuná-la movidas pela inveja e ciúmes. As outras amantes fizeram inclusive que seus servos deixassem fezes humanas nos corredores por onde ela costumava caminhar.

A partir de então, ela começou a se perder e morreu três anos após o nascimento de Genji. Após sua morte, Genji constantemente procurou preencher o vazio deixado por esta perda, formando relações com várias mulheres, muitas das quais se pareciam com sua mãe.

6. Hikaru Genji teve um caso com sua madrasta, que parecia sua mãe biológica

顔 顔Asagao (“The Bluebell”), de Tosa Mitsuoki (1617–1691).

Depois que Kiritsubono Koui faleceu, Kiritsubo Tei ficou profundamente deprimido. No entanto, ele encontrou uma mulher, Fujitsubo no Chuuguu (藤壺中宮), que parecia exatamente como ela, e fez dela sua amante. Isso aconteceu quando Hikaru Genji tinha 18 anos.

Genji e Fujitsubo no Chuuguu tinham apenas 5 anos de diferença na idade. Eles tiveram um caso amoroso, e ela engravidou e deu à luz uma criança.

7. Hikaru Genji encontra uma criança que se parecia com Fujitsubo no Chuuguu, e faz dela sua esposa

若紫 Wakamurasaki (“Young Murasaki”). Tosa Mitsuoki, 1617–91

Não se sabe ao certo a idade de Murasaki no Kimi (紫の君) quando Hikaru Genji colocou os olhos nela, mas acredita-se que tinha entre 8 e 10 anos de idade. Mais tarde ela foi chamada de Murasaki no Ue (紫の上). Ela era sobrinha de Fujitsubo, então não é de se admirar que as duas fossem parecidas fisicamente e por Genji ter se encantado por ela.

Em resumo: Hikaru Genji teve um caso com uma mulher que parecia com sua mãe e, eventualmente, levou uma criança que se parecia com sua mãe para também ser sua esposa. Por essas polêmicas não é difícil entender porque Genji Monogatari era considerado um romance escandaloso na época em que foi escrita e mesmo nos dias de hoje!

Além disso, alguns tradutores acreditam que o personagem Murasaki no ue é baseado na própria Murasaki Shikibu. Isso porque o próprio diário de Murasaki Shikibu inclui uma referência ao conto: o apelido para ela própria era ‘Murasaki’, em alusão ao personagem.

8. Genji se relaciona com a amante de seu próprio irmão

Um dos relacionamentos secretos de Genji acaba sendo descoberto: Genji e uma concubina de seu meio-irmão. Ao descobrir a traição do seu irmão com sua amante, que era chamada de “Oborozukiyo”, o Imperador Suzaku tem o dever de punir seu meio-irmão.

Genji é, portanto, exilado na cidade de Suma-ku, na zona rural da província de Harima (agora parte da cidade de Kobe, província de Hyogo). Lá, um homem próspero de Akashi, na província de Settsu, cuida de Genji, e ele passa a ter um caso amoroso com a filha dele, Akashi. Ela dá à luz uma filha. Esta única filha mais tarde, se tornará a Imperatriz.

9. Genji tinha 8 interesses amorosos principais

Yadorigi (“Hera”). Museu de Arte de Tokugawa

Os nomes são: Fujitsubo no Chuuguu (藤壺中宮), Aoi no Ue (葵の上), Rokujyou no Miyasundokoro (六条御息所), Murasaki no Ue (紫の上), Akashi no Onkata (明石の御方), Suetsumu Hana (末摘花), Utsusemi (空蝉) e Onna Sannno Miya (女三宮).

Como você pode ver nos detalhes descritos acima, muitas das histórias de Genji Monogatari, envolve o protagonista e o seu romance com essas mulheres.

9. Murasaki Shikibu era uma mulher muito talentosa que serviu no palácio real.

Murasaki Shikibu, ilustração de Tosa Mitsuoki, que fez uma série sobre O conto de Genji (século XVII)

Como não havia nenhum nome de autor escrito nos pergaminhos, existem várias teorias sobre quem escreveu esta obra-prima. Mas a teoria mais forte até agora é que a autora tenha sido a nobre Murasaki Shikibu (紫式部). Ela serviu Fujiwara no Shoushi (藤原彰子), e era uma das amantes do Tennou na época, Ichijyou Tennou (一条天皇).

Ela era fluente em escrita chinesa clássica, o que era impensável naquela época, já que apenas homens dominavam a arte da escrita. Ela também era uma talentosa poeta Waka. Outra obra sua é “Murasaki Shikibu Nikki” (紫式部日記) onde ela fazia uma espécie de descrição ou avaliação das pessoas que viviam no palácio imperial naquela época.

10. O Conto de Genji pode ter tido mais de um autor

Yosano Akiko, o primeiro autor a fazer uma tradução moderna do Genji Monogatari, acreditava que Murasaki Shikibu tinha apenas escrito os capítulos 1 a 33, e que os capítulos 35-54 foram escritos por sua filha Daini no Sanmi.

Outros estudiosos também duvidaram da autoria de capítulos 42 a 54 (particularmente o 44, que contém raros exemplos de erros de continuidade).

11. O Conto de Genji foi traduzido em muitas línguas

東屋 Azumaya (“Eastern Cottage”). Museu de Arte de Tokugawa.

Uma vez que foi escrito em japonês clássico, Geni Monogatari foi traduzido para o japonês moderno por muitos autores famosos, como Akiko Yosasno (与謝野晶子) e Jyunichirou Tanizaki (谷崎潤一郎). Em seguida, foi traduzido para o inglês, francês, italiano, espanhol, holandês, sueco, alemão, russo, finlandês, tcheco, chinês e coreano.

12. O Conto de Genji pode ser uma obra incompleta

夕霧 Yūgiri (“Névoa Noturna”). Museu de Arte de Tokugawa

O conto termina abruptamente, no meio de uma frase. As opiniões variam sobre se o final era a conclusão prevista pela a autora. Arthur Waley, que fez a primeira tradução em inglês de todo o Genji Monogatari, acreditava que o trabalho foi de fato terminado.

Ivan Morris, autor de O Mundo do Príncipe Brilhante, acreditava que a história não estava completa, porque algumas páginas ou um capítulo no máximo, “desapareceram”.

Edward Seidensticker, que fez a segunda tradução do Genji, acredita que ele não foi terminado, e que Murasaki Shikibu não tinha uma estrutura planejada da história com um “final” e simplesmente foi escrevendo enquanto podia.

13. O conto de Genji tem fanfiction

Para aqueles que não estão familiarizados com o termo fanfiction: trata-se de uma forma de literatura onde os fãs do trabalho original escrevem contos secundários, como sequencias, ou o que aconteceu nos bastidores. A mais antiga fanfiction remonta à era Kamakura.

14. O Conto de Genji é adaptado em muitas formas de mídia

Asaki Yumemishi (あさきゆめみし)

Essas adaptações abrangem mangás, filmes, programas de TV, anime, teatro, kabuki, noh e música tradicional japonesa. Uma famosa adaptação de mangá seria Asaki Yumenishi, que é mostrada na imagem acima, e é na verdade um material de leitura recomendado enquanto se estuda O Conto de Genji nas escolas japonesas.

15. O Conto de Genji está presente nas notas de 2000 ienes

Nota de 2000 ienes com The Tale of Genji e Murasaki Shikibu no canto direito

O romance também aparece em uma das cédulas de iene. Nas notas de 2.000 ienes, você vai encontrar no verso uma cena do Conto de Genji e um retrato de sua autora, Murasaki Shikibu (973-1031).

Gostou de saber algumas curiosidades sobre Genji Monogatari (O Conto de Genji)? Já ouviu a respeito dessa obra? Comente abaixo sobre o assunto.

Fontes: tsunagujapan.com, kids.kiddle.co, wikipedia.org

4 Comments

  1. José Carlos

    Amo o Japão e o tenho como minha pátria, apesar de não ter descendência nipônica.
    Assim como não há nada perfeito, dentre os imperfeito o japão é o mais perfeito.

  2. É realmente incrível como a cultura japonesa até hoje inspira tantas obras, desde livros, filmes, mangás e até jogos! Sabia que também existe outro livro bem parecido com esse, chamado Heike Monogatari (平家物語)?

    Nele é contato a guerra mais famosa do Japão que inclusive foi inspiração para a criação de um jogo para PS3 chamado Genji: Days Of The Blade. Escrevi um artigo, complementar à este do Japão Em Foco, falando da cultura japonesa exposta nos jogos, quem quiser dar uma olhada é só acessar:
    https://artesninja.com/aprendendo-japones-cultura-historia-games/

  3. Estou lendo ” O Livro do Travesseiro” e após ler o seu artigo pretendo ler, em sequencia, As narrativas de Genji. Achei muito interessante a sua exposição.

  4. Pingback: 20 fatos sobre a arte japonesa Ukiyo-e | Curiosidades do Japão

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *