Educação e civilidade não deveriam vir de berço?
Educação e civilidade não deveriam vir de berço?
Bastou um simples gesto para que logo fosse noticiado no mundo todo como algo surpreendente, gerando debates sobre o senso cívico e a conduta pública de diversos países. Sim, jornais do mundo todo mostrou os torcedores japoneses recolhendo os lixos das arquibancadas depois dos dois jogos do Japão na Copa do Mundo.
Essa prática é algo inerente aos japoneses desde a infância, onde aprendem desde cedo que cada um deve ter responsabilidade sobre o lixo que produzem. Sabem que se não cuidarem disso, não terá ninguém que cuidará e por isso a coleta de lixo é levada muito à sério e cada um faz sua parte em prol do bem estar de todos.
Sabemos que a Copa do Mundo é uma janela de onde se pode observar a conduta de vários povos. Bons e maus exemplos podem ser notados em um evento de grande porte como esse. Nessa copa, já vimos invasões de chilenos no Maracanã, palavras de racismo dos espanhóis inconformados com a derrota e até cenas de depredações.
Enquanto isso, os samurais azuis, mesmo após a derrota contra a Costa do Marfim, se curvaram diante de sua torcida em um gesto de agradecimento e humildade. E a torcida, que tem sido referência pela sua alegria e simpatia, carregavam sacos azuis que posteriormente seriam usados para recolher seus restos de lixo no estádio.
Nos noticiários, muitos japoneses se mostraram surpresos com a repercussão mundial que o ato causou, pois não foi para chamar a atenção e sim porque faz parte da rotina de cada cidadão. Limpar os assentos e recolher seu próprio lixo é completamente normal em qualquer tipo de evento esportivo no Japão.
Nas ruas podemos notar esse mesmo cuidado. Se não tem lixeira na rua, levam o lixo pra casa a fim de separá-lo. Vale lembrar que em alguns lugares no Japão, o lixo reciclado chega a 100% de aproveitamento.
Como não há garis, são os moradores que se unem em mutirões periódicos para manter as ruas sempre limpas. Há uns dias, vi uma notícia em que uma japonesa condenava o gesto dos seus conterrâneos de limparem o estádio após o fim do jogo.
Seu argumento era de que eles estavam errados em desrespeitar as regras do país anfitrião e que tal gesto podia até causar desemprego para as pessoas que trabalhavam na limpeza dos estádios.
Mas seria certo tratar a falta de educação e civilidade como uma questão cultural? Na minha opinião, essas coisas tinham que vir de berço e deveriam fazer parte na vida das pessoas de forma natural e espontânea. Mas já que infelizmente não são, esse tipo de conduta exemplar não deveria ser reprimida de forma alguma.
Temos também vários outros exemplos de educação e honestidade, como o belo exemplo da brasileira que devolveu a mochila com bilhetes para a Copa e cartões de crédito ao seu dono mexicano, esquecida dentro de um ônibus em Natal (RN). Ler notícias como essa, sempre nos traz uma enorme satisfação não é? 😉
Como já diz um antigo ditado, ‘gentileza gera gentileza’ então não há nada de mal em mostrar bons exemplos pelo mundo afora, que aliás já tem trazido resultados, pois este gesto está sendo copiado por muitos torcedores, inclusive os anfitriões brasileiros. Não se trata somente de educação e civilidade, mas também de cuidado e respeito a um patrimônio nosso, pago com nosso tão suado dinheirinho.
Estamos vivendo uma fase conturbada no Brasil, com manifestações pelo Brasil inteiro. E existem boas razões por trás disso tudo. O povo está descontente com a corrupção e a roubalheira que assola nosso país. O problema é que um pequeno grupo acha que com vandalismo vai conseguir chegar a algum lugar. Esquecem que ao depredar as coisas, a conta vai para os próprios brasileiros.
Eu respeito a conduta dos japoneses, pois eles cuidam do que é deles e do que é dos outros. Por outro lado, nós já estamos cansados das atrocidades cometidas nos estádios de futebol por torcedores fanáticos, que transformam um pacífico campo de futebol em um verdadeiro campo de batalha entre torcidas organizadas.
Quem não se lembra da morte de um rapaz causada por uma privada arremessada da arquibancada do estádio do Arruda em Recife? Ou daquele jovem que morreu por causa de fogos de artifícios em um jogo entre Corinthians e San José na Bolívia? Por essas e por outras, nos sentimos felizes com pequenos gestos de gentileza.
Mas voltando à questão do lixo, temos ainda que nos conscientizar que trata-se de uma questão ambiental que é de nível mundial. Uma sociedade que se preocupa com o destino do lixo é uma sociedade que se mostra consciente com o meio ambiente. Por isso, acho válido toda a repercussão que a notícia ganhou mundo a fora.
Para muitas nações, a preocupação com o meio ambiente ainda não tem a importância que deveria ter e sendo assim, qualquer bom exemplo é válido como forma de conscientização. O Japão provavelmente está fora da Copa, mas seus bons exemplos ficarão marcados na história dessa Copa do Mundo no Brasil.
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