Contos & Fábulas Japonesas: TÓQUIO
Que tipo de luz resiste durante uma catástrofe? O amor de uma mãe revela que há um farol interior que nunca se apaga.
“Se a correnteza afunda, terá uma chance.”
Provérbio japonês
Por Rafaela Torres e Mara Vanessa Torres
Quando dei por mim, o chão estava tremendo. O mundo parecia estar desabando diante de meus pés. Arrastando-me por entre as paredes, consegui adentrar no pequeno quarto azulado que ficava ao lado do meu.
Olhei desesperadamente para o berço, coloquei em meus braços aquele ser tão frágil e me curvei por cima dele para protegê-lo daquela chuva de concreto causada pelo tremor.
Dor, lágrimas e um grito de socorro. Desesperança. Senti o suave toque das mãozinhas beliscando o meu rosto. Apertei contra o corpo a última lembrança do amor de meu falecido marido. Mais um grito de ajuda e, logo após uma dor lancinante, tudo ficou escuro.
Vaguei por abismos sombrios, sem rumo, sem noção de tempo. Uma luz. O gosto de sangue nos lábios e uma incerteza que cada vez mais engolia todo o meu ser. Aquele cheiro de hospital, meu velho conhecido, vinha me assombrar mais uma vez.
Crédito: Separator por Jeffrey Smith
De repente, as trevas se encheram de luz e meus olhos se abriram novamente. Aquelas mesmas mãozinhas tocavam o meu rosto. Quando quase me acostumei com aquele clarão, percebo uma pessoa parecida comigo que está sorrindo em meio às lágrimas.
— Não se preocupe, vai ficar tudo bem agora — disse a senhora que sempre esteve ao meu lado desde que me recordo.
Um anjo.
Ela aperta a minha mão.
Eu recomeço.
Mara Vanessa Torres é escritora, jornalista, revisora e pesquisadora. Escreve sobre tecnologia, arte, cultura, ciência e cultura asiática. Tem uma mente que acredita em enigmas e no poder da transcendência. Twitter: @maravanessatmf
Rafaela Torres é escritora, psicóloga, ilustradora e gamer. Apaixonada pela cultura asiática e por trilhas sonoras. Instagram: @rosenightshade
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