Conhecendo 6 tipos de calçados tradicionais japoneses
Dentro de casa, os japoneses andam sempre descalços e os calçados tradicionais foram projetados para serem uma extensão dos pisos de madeira ou tatami.
Como sabemos, os calçados foram criados para um propósito funcional. Hoje vamos conhecer alguns sapatos, ou melhor, sandálias tradicionais japonesas, que possuem características incomuns e qualidades estéticas únicas muito diferentes do que vemos fora do Japão.
Até o século XX, os calçados tradicionais foram usados exclusivamente no Japão por milhares de anos. Hoje em dia, esses sapatos clássicos ainda são a melhor escolha quando combinadas com as roupas tradicionais japonesas, do casual yukata ao formal e elegante quimono.
Outras roupas tradicionais são o happi com design arrojado e o hakama que embora mais simples, são peças de vestuário originárias do Japão famosas. Para cada uma delas, existe um calçado tradicional específico, que também varia de acordo com as condições climáticas!
Outra característica presente em alguns tipos de calçados tradicionais é que não tem “esquerda” ou “direita”. Dentro de casa, os japoneses andam sempre descalços e os calçados tradicionais foram projetados para serem uma extensão dos pisos de madeira ou tatami, fazendo deles algo como um piso portátil em miniatura ou tapete de tatami sob os pés.
1. Geta 下駄
No passado, o geta tinha o uso prático de manter o quimono fora do chão e longe de poças, neve e sujeira. Com o tempo, eles se tornaram o tipo mais casual de calçado tradicional e mais adequado para o yukata, o quimono de verão. O que todos os geta têm em comum é uma base de madeira, mas existem dezenas versões de geta, para diferentes climas e situações.
O geta típico consiste em uma peça em forma de placa plana chamada ‘dai’ e duas peças de suporte chamadas “ha” (que significa ‘dentes’). Preso a sua base de madeira está uma alça de tecido forte, mas macio, chamada ‘hanao’. Geta costuma ser usado com yukata ou até com roupas ocidentais. Nesses casos não há necessidade de usar tabi (meias brancas).
Mas se a roupa usada for um estilo mais formal, o tabi (meias tradicionais japonesas com uma repartição que separa o dedão dos demais dedos do pé) costuma ser usado. Embora a maioria dos geta consista em dois “ha” (dentes de madeira), se você tiver sorte, poderá ver pessoas usando o “ipponbageta”, que são geta empoleirados em cima de um único dente!
Os dentes fazem um som distinto de “estalo” ao caminhar, conhecido como “karankoron” (カランコロン) . Isso às vezes é mencionado como um dos sons que os japoneses mais velhos mais sentem falta na vida moderna. Um ditado japonês que diz assim: “Você não sabe até ter vestido geta”, que significa algo como “você não pode saber os resultados até que o jogo termine.”
Uma curiosidade interessante é que as Oiran (花魁) – cortesãs do período feudal no Japão, não usavam meias nem mesmo no inverno. Essa era uma maneira de distingui-las das gueixas. O pé descalço contra um tamanco laqueado era considerado erótico, deixando os dedos do pé para fora sob muitas camadas de quimono elaborado e chamativo com bainhas acolchoadas.
Dentre os mais comuns, está o Hiyori geta ou Masa geta. É o clássico geta de uso diário. Eles geralmente têm uma base retangular e dois dentes de madeira que correm perpendiculares ao lado comprido da base. Esses geta baixos eram tradicionalmente usados com tempo bom.
Geralmente são de madeira natural sem acabamento, embora também se encontre laqueados. As tiras podem ser lisas ou coloridas. Alguns estilos de geta modernos do dia-a-dia não têm dentes, apenas uma base de madeira. Usar tabi (meia) é opcional para esse tipo de geta.
Já os geta Taka-ashida, embora semelhante ao geta Hiyori, foram feitos para serem usados na chuva e neve, então seus dois dentes são muito altos e finos. Depois que as estradas foram pavimentadas, diminuindo a quantidade de poças e lama, acabou caindo em desuso.
Antigamente, esse tipo de geta era usado por alguns comerciantes de frutos do mar e peixes pois por ser muito alto com dentes particularmente longos, eram capazes de manter os pés acima de quaisquer restos de peixe no chão de suas lojas.
Outro exemplo de geta é o Ipponbageta (一本歯下駄), também apelidado de tengu geta em referência ao demônio tengu da mitologia japonesa, que geralmente é retratado usando esse dentes. Trata-se de um geta com um único dente longo. É preciso prática para poder usa-los e são reservados principalmente para atores, danças tradicionais e festivais.
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2. Zori – 草履
Zori é outro tipo de sandália japonesa. Os zori tradicionais mais comuns são feitos de junco tais como os usados em ‘tatami’, no entanto, tecido, madeira laqueada, vinil, cortiça, brocado e couro também podem ser usados, assim como outros tipos de materiais sintéticos.
Como existem diversas variações, o zori pode ser usado com uma variedade de roupas, desde o jinbei casual e folgado até o quimono formal. Tradicionalmente, os zori são baixos, mas os estilos modernos podem ter plataformas em alturas variadas.
Os de junco costumam ser usados com roupas informais, enquanto que os de vinil ou plástico são usados com roupas formais, como um quimono semi-formal; por exemplo, para um festival. Os zōri mais formais usados por mulheres, são cobertos de brocado e são usados com os quimonos mais formais, por exemplo, roupas de casamento e funeral.
Independente do tipo do zori, quase sempre usa-se o tabi (meias brancas tradicionais japonesas). No zori tradicional, as hanao (tiras) são brancas (para roupas formais) ou pretas (para roupas informais), dependendo da ocasião. Assim como o tradicional geta, as tiras do zori são colocadas no centro, então não há diferença entre o sapato esquerdo e direito.
3. Setta – 雪駄
Setta é um tipo de zori usado principalmente por homens. A parte inferior de couro é diretamente fixada na parte superior em uma construção chamada jikazuge. A parte superior é tecida com bambu, couro ou material sintético e o couro é costurado na parte inferior.
Pregos de aço são então martelados na sola para manter todas as partes unidas. Acredita-se que o “Sekida”, como os setta eram chamados antigamente, tenha sido concebido para o mestre do chá Sen no Rikyu usar em passeios no jardim de sua casa de chá em dias de neve. O nome do calçado foi mudado para “setta” quando eles migraram para o leste do Japão.
4. Okobo – おこぼ
Originados no século 18, Okobo ainda estão em uso. Antes mesmo do conceito de salto plataforma na década de 1970, a maiko (aprendiz de gueixa) japonesa já usava sandálias ou tamancos Okobo. Além de ostentarem a moda, eles também eram usados por razões práticas. O objetivo principal era proteger o quimono de ficar sujo ao se aventurar ao ar livre.
Hoje são também usadas por meninas no festival Shichi-Go-San e moças no Dia da Maioridade. Possui uma grande base cortada de um único pedaço de madeira, geralmente feito de paulownia. A altura de um okobo varia de 10 centímetros a 15 centímetros.
Também são chamados de Pokkuri geta (ぽっくり 下駄). Pokkuri é uma onomatopeia pelo som que esses sapatos fazem ao se caminhar com eles. Isso porque, seu interior é oco e geralmente contem um pequeno sino ou algo similar que faz emitir sons ao caminhar.
Normalmente não são laqueados, exceto no verão, quando usados okobo com acabamento laqueado preto liso ou com desenhos multicoloridos. Também costumam ser usados com tabi (meias tradicionais japonesas). As cores das alças do Okobo descrevem o status da maiko: o vermelho é usado por novatas, enquanto o amarelo é usado por maiko mais experientes.
5. Jika-tabi – 地下足袋
Tabi (足袋) são as tradicionais meias brancas usadas com roupas tradicionais formais, como o quimono. Ao contrário de outras meias comuns, as tabi se diferenciam pela separação entre o dedão do pé e os demais dedos, permitindo o uso com geta ou okobo.
Já o Jika-tabi, embora mantenha a mesma forma que tabi, funciona como uma espécie de sapato ou bota. O nome significa algo como ‘meias que tocam o solo’. Jika-tabi, inventados no século 20, são feitos de materiais resistentes como borracha. Os sapatos são frequentemente usados por fazendeiros, operários da construção, puxadores de riquixá ou jardineiros.
6. Waraji – 草鞋
Waraji é indiscutivelmente o calçado mais simples da nossa lista. Essas sandálias de corda de palha eram o calçado básico do dia a dia no Japão antigo. Na era feudal, os samurais, assim como os soldados chamados ‘ashigaru’, eram conhecidos por usarem esse tipo de sandália. Nos tempos modernos, os waraji ainda são usados em festivais e por monges budistas.
Geralmente são feitas com palha de arroz, mas também podem ser de cânhamo, algodão ou palma. Cordas feitas do mesmo material envolvem os tornozelos e prendem a sola com segurança ao pé. Waraji deve ser usado com os dedos ligeiramente para a frente.
Podem ser usadas com tabi, as tradicionais meias japonesas com dedos separados. Outra variação do Waraji é o Warazori, feitos do mesmo material de palha de arroz, mas têm a forma mais próxima de um chinelo. Eles são os precursores do zori moderno.
Gostou de conhecer alguns calçados tradicionais japoneses? Muito interessante né? Qual destes calçados japoneses tradicionais é o seu favorito? 🙂
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