Akuin Akka: Você colhe o que planta
Neste conto, você vai conhecer a história de uma mulher que semeava queixumes e reclamações, até que, um dia, seu comportamento trouxe consequências.
Por Mara Vanessa Torres & Rafaela Torres
Assim eu ouvi:
Em uma aldeia isolada, morava uma mulher que gastava seus dias e noites reclamando. Nada era capaz de satisfazê-la. Quando o sol surgia no horizonte, ela apontava para o céu com a expressão fechada:
— Nasce mais um dia com muita luz e calor. Eu irei ficar cansada depressa, com os olhos doloridos e a cabeça pesada. Que dia ruim!
No instante em que anoitecia, a mulher aparecia de mau humor para dizer:
— Detesto essa escuridão! Não consigo executar nenhuma de minhas atividades com perfeição e eficiência. Tudo isso porque não tenho luz suficiente.
Verão, outono, primavera ou inverno, nenhuma estação era capaz de saciar a insatisfação da mulher. Tudo e todos eram motivos de julgamentos e queixumes. A vida lhe parecia sempre amarga e ruim. Muitas vezes, ela bradava:
— Viver é um fardo.
Monster Month #7 por Nikk the Human
Os moradores da aldeia evitavam a mulher. Para eles, era muito difícil ter que lidar com alguém para quem tudo tinha gosto de fel. Certo dia, uma jovem forasteira chegou no lugar. Desconhecendo completamente a fama da mulher, ela bateu em sua porta.
— Minha cara senhora, fiz uma longa viagem e estou muito cansada. Poderia me dar abrigo esta noite?
— Não — respondeu secamente a mulher, fechando a porta na cara da forasteira.
Sem qualquer perturbação, a jovem bateu novamente.
— Prometo não atrapalhar. Tenho pão, frutas secas e um pouco de saquê. Será um grande prazer dividir o que eu trouxe com alguém.
— Eu já disse: vá embora. Não quero ninguém em minha casa.
Profundamente decepcionada com a falta de empatia e educação da mulher, a forasteira sussurrou:
— Akuin akka. Você colhe o que planta.
Dito isso, retirou-se sem deixar rastros.
No dia seguinte, a mulher saiu de casa para comprar algumas hortaliças e frutas. Para a sua absoluta surpresa, ela notou que estava completamente sozinha. Não havia ninguém na aldeia. Era como se todas as casas e pessoas tivessem desaparecido.
Por horas a fio, a mulher percorreu todos os cantos do povoado sem, contundo, esbarrar em uma pessoa sequer. O local estava totalmente deserto.
Mesmo reclamando dias e noites sem cessar, suas queixas não puderam mais ser ouvidas ou respondidas. Anos depois, triste e solitária, a mulher fechou a porta de casa pela última vez e nunca mais abriu.
Quando o sol raiou novamente, a aldeia reapareceu como se jamais tivesse saído do lugar. As pessoas sorriam, lançando acenos e cumprimentos umas para as outras.
— Ohayō Gozaimasu! — era dito com entusiasmo por todas as pessoas.
Sentada em uma pedra, a forasteira saboreava um caqui docinho.
“O tempo parou para a aldeia e seus habitantes, que sabem desfrutar das circunstâncias da vida, sejam elas quais forem. No entanto, para a mulher que só conhecia reclamações e queixumes, o tempo passou depressa, sem dar atenção ou olhar para trás. Desejo que, em uma próxima vida, ela aprenda a viver com plenitude e gratidão, já que não aprendeu nesta existência.”
E deu mais uma mordida no delicioso caqui antes de ir embora.
Mara Vanessa Torres é escritora, jornalista, revisora e crítica cultural. Tem profunda admiração e crescente interesse pelo universo artístico e cultural nipônico. @abyssal_waters
Rafaela Torres é escritora, psicóloga, ilustradora e gamer. Apaixonada pela cultura asiática. @rosenightshade
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