A saga de Nagareboshi


A saga de Nagareboshi

Você confiaria seus sentimentos em uma jornada perigosa? Uma estrela confiou. Leia agora a história protagonizada por dois corpos celestes

Por Mara Vanessa Torres & Rafaela Torres

Ohisama, o Grande Sol, não reconhecia o poder que emanava dele; não conseguia sentir o Universo em sua imensidão.

Ele não compreendia a Via Láctea como um lugar de infinitos. O Rei Dourado disparava raios flamejantes o tempo todo, impondo a si mesmo o caminho da solidão.

Dentro desse cosmos inabitável, Nagareboshi, uma estrela pequena e distante, admirava o Sol. Ela gostava do brilho, da intensidade, do calor do Grande Astro! Mas Nagareboshi não entendia por qual motivo Ohisama era tão solitário, tão autossuficiente.

De longe, a pobre estrelinha respirava apaixonadamente os raios solares. Ela sabia que era perigoso se aproximar. Ela sabia, principalmente, que era proibido.

Porém, Nagareboshi estava tão apaixonada e dizia a si mesma antes de dormir:

— Não, eu nunca toquei os raios de fogo. Eu nunca estive próxima deles. Sei que Ohisama pode me matar em alguns segundos, mas eu faria tudo para conseguir olhá-lo de perto um segundo sequer… Eu quero tanto ouvir sua voz e ver que tipo de expressão ele tem quando sorri!

Com esses pensamentos, a estrela dormia e sonhava todos os dias. Em um momento cósmico tranquilo, ela tomou a grande decisão de sua vida: conhecer Ohisama.

Pegando carona na cauda dos cometas, Nagareboshi viajou por dias e dias, meses e meses, anos e anos, até chegar ao reduto solar. Ela decidiu permanecer escondida até Ohisama despertar, pois era noite e Tsuki, a Lua, reinava imponente no céu.

Quando amanheceu, Ohisama abriu seus grandes raios e não reparou que tinha companhia: um pequeno e imperceptível corpo celeste.

Nagareboshi ficou encantada: sim, Ohisama, o Grande Sol, era tão bonito, tão forte, tão soberano… Ela começou a admirar o coração em chamas. Mas o pequenino corpo luminoso estava tão perto, tão perto… Quando Ohisama percebeu, ele viu pequenos fragmentos dissolvidos no cosmos.

Suas chamas e calor dissolveram a estrelinha, transformando-a em uma grande cauda luminosa. Nagareboshi se tornou uma estrela cadente. A partir desse momento, o Rei dos Astros não estava mais sozinho.


Mara Vanessa Torres é escritora, jornalista, revisora e crítica cultural. Tem profunda admiração e crescente interesse pelo universo artístico e cultural nipônico. @abyssal_waters

Rafaela Torres é escritora, psicóloga, ilustradora e gamer. Apaixonada pela cultura asiática. @rosenightshade

Imagem do topo: Universe Eye, assinada por Ellysiumn

2 Comentários

  1. Maria

    Maravilhoso! Me emocionei muito!

    Que história linda!

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