5 lições de design de produtos que podemos aprender com o Japão
Em um mundo onde “inovação” é o novo mantra, é fácil ignorar que algumas das melhores ideias vêm de antigas tradições testadas e comprovadas.
Ferramentas inovadoras não são o único caminho para o sucesso de um produto; métodos clássicos que resistem ao teste do tempo podem ser aplicados em produtos modernos.
O Japão tem uma longa história de criação de produtos que não são apenas duráveis e confiáveis, mas também esteticamente agradáveis. De carros a eletrônicos, o país tem a reputação de produzir produtos de alta qualidade, e isso não é um fato recente.
No Japão antigo, os artesãos buscavam a perfeição em seu ofício, e esse compromisso com a excelência ainda é evidente nos produtos fabricados até hoje. Então, o que podemos aprender sobre design de produto a partir da perspectiva japonesa? Aqui estão cinco dicas:
1. O design tem que ser uma experiência completa
Imagem: photo-ac.com
O termo japonês “mono no aware” (物の哀れ) significa algo como “uma apreciação ou sensibilidade sobre coisas efémeras”. A maioria dos itens japoneses, que são feitos para serem apreciados tanto por seu apelo estético quanto por sua funcionalidade, refletem essa ideia.
O Furoshiki, tradicional tecido de embrulho japonês, é uma das peças que melhor representa este conceito. Esses panos, frequentemente feitos de materiais requintados, podem ser usados para carregar itens ou embrulhar presentes. O ato de dobrar o pano em uma forma específica é um processo meditativo e o resultado é uma obra de arte que pode ser reutilizada várias vezes.
O conceito “mono no aware” também pode ser usado para criar itens modernos. Por exemplo, até mesmo uma simples mala pode se transformar em uma experiência luxuosa se for bem trabalhada e atraente aos olhos.
Essa ideia japonesa inspirou o nome da empresa de malas e viagens Monos.com, que acaba de garantir US$ 30 milhões em investimentos, evidenciando o alto desejo por mercadorias que vão além da mera funcionalidade.
2. A forma precisa vir depois da função
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A estética japonesa conhecida como “wabi-sabi” abraça a imperfeição, e esse princípio é frequentemente aplicado ao design de produtos. A ideia é que um produto deve ser projetado para desempenhar bem sua função, e seu design exterior deve estar em segundo plano.
Essa filosofia é evidente no design das espadas tradicionais japonesas. Essas espadas são projetadas principalmente para a batalha, e sua forma segue a função. Eles não precisam ser necessariamente objetos bonitos; em vez disso, eles devem ser armas mortais e eficientes.
Ironicamente, a funcionalidade dessas espadas muitas vezes as torna bonitas, pois seus designs simples são elegantes e eficientes. Em um mundo onde muitos produtos estão sobrecarregados com recursos desnecessários, a filosofia wabi-sabi é um lembrete de que menos é mais.
3. Simplicidade é a chave
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Outra estética japonesa, “shibui” (渋い), se traduz em uma estética particular que cultiva uma “simplicidade sutil, discreta e elegante”. Essa filosofia é evidente em muitos produtos japoneses, que são projetados para serem o mais simples e eficientes possíveis.
Um exemplo é o trem-bala (shinkansen), que foi pensado para ser um meio rápido e eficaz de se deslocar entre as cidades. Os trens são elegantes e aerodinâmicos, sem detalhes supérfluos. Essa simplicidade os torna não apenas eficientes, mas também bonitos à sua maneira.
4. O material usado é importante
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No Japão, grande importância é dada à seleção de materiais. Os artesãos selecionam apenas os melhores materiais para seus produtos e costumam usar métodos tradicionais para processá-los.
Por exemplo, a árvore Kozo (楮の木) é usada para produzir papel japonês (Washi). A casca da árvore é coletada, fervida e depois transformada em polpa. Essa polpa é então transformada em folhas de papel, que são deixadas para secar ao sol. O resultado é um papel forte, resistente e durável que é usado para tudo, desde artes e artesanato até arquitetura tradicional.
5. Qualidade acima da quantidade
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No Japão, acredita-se que um produto deve ser feito para durar a vida toda. Essa filosofia é conhecida como “monozukuri” (ものづくり), que se traduz como “a arte de fazer coisas”.
Monozukuri é uma abordagem holística ao design de produtos que leva em consideração tudo, desde os materiais usados até o processo de fabricação. O objetivo é criar produtos que não sejam apenas funcionais e confiáveis, mas também bonitos e atemporais.
Essa filosofia é evidente nos carros japoneses, conhecidos por sua durabilidade e qualidade. Muitos carros japoneses ainda estão na estrada hoje, décadas depois de terem sido fabricados. Esta é a prova da qualidade dos componentes e do cuidado com a sua produção.
Como vimos, o Japão tem uma longa história de criação de produtos de alta qualidade e podemos aprender muito com sua abordagem e metodologia. Aplicando os princípios de “mono no aware”, “wabi-sabi”, “shibui” e “monozukuri”, podemos criar produtos que não sejam apenas funcionais, eficientes e confiáveis, mas também esteticamente agradáveis e duradouros.