Nihonga: 8 curiosidades sobre as ‘pinturas de estilo japonês’
Nihonga se caracteriza por pinturas que usam técnicas e materiais tradicionais japoneses, distinguindo-se das pinturas de estilo ocidental, ou Yōga.
Apesar desta arte ser baseada em tradições de mais de mil anos de idade, o termo foi cunhado no período Meiji do Japão Imperial. A pintura japonesa abrange uma gama eclética de estilos artísticos, muitos deles bastante familiares no ocidente: da arte zen, passando pelas ousadas e enigmáticas xilogravuras ukiyoe, até a moderna e popular indústria de mangá e animes.
Nihonga (日本画) significa literalmente pintura japonesa e muitos praticantes desta arte produziram algumas das obras- primas mais atraentes dos últimos 150 anos. Um exemplo é o impressionante bijinga (retratos de mulheres bonitas), de Tetsu Katsuda.
Que tal conferir algumas características e elementos que compõem esse estilo de arte japonesa, ao mesmo tempo que aprecia alguns exemplos magníficos exemplos de Nihonga?
1. O que é Nihonga?
Shiho Sakakibara, White Heron, 1926, Adachi Museum of Art
Antes do Período Meiji, o conhecimento da arte estrangeira era limitado no Japão. Uma vez que esse isolamento do país foi quebrado em 1853, os artistas japoneses foram subitamente apresentados a um mundo de novas ideias e técnicas. A pintura no estilo ocidental, Yōga (洋画), tornou-se uma fonte de fascínio para criadores e consumidores de arte no Japão.
Gyokudo Kawai, Spring Drizzle, 1942, Adachi Museum of Art
Mas, como na maioria das revoluções, os contrarrevolucionários também clamavam por serem ouvidos. O movimento Nihonga nasceu do desejo de muitos artistas de valorizar as belas artes nativas do Japão, como a garça branca de Sakakibara ou as paisagens da primavera de Kawai.
2. Quem criou Nihonga?
Kansetsu Hashimoto, noite de verão, 1941, Museu de Arte de Adachi
A escola ‘Tokyo Academy of Fine Arts’ teve um papel fundamental para o movimento do Nihonga. Fundada por Okakura Tenshin e Ernest Fenollosa em 1889, a Escola foi a primeira organização a separar formalmente Nihonga e Yoga, e desenvolver alguns princípios para Nihonga.
Estes dois homens desempenharam papéis importantes no desenvolvimento do currículo nas principais escolas de arte, e incentivaram e patrocinaram artistas.
Shiho Sakakibara, Japanese White-Eye and Plum Blossoms, 1939, Adachi Museum of Art
A partir de então naturalmente foi difundidp que qualquer pintura criada com técnicas e materiais tradicionais japonesas passasse a ser vista como Nihonga. De fato, ainda em 1896, o próprio Tenshin disse que “pintura a óleo, se feita por um japonês, é considerado Nihonga”.
No entanto, muitos artistas Nihonga também adotaram técnicas realistas de pintura ocidental, tais como perspectiva e sombreamento. Devido a esta tendência, embora Nihonga forme uma categoria distinta dentro das exposições anuais Nitten, nos últimos anos, tornou-se cada vez mais difícil estabelecer uma nítida separação em técnicas ou materiais entre Nihonga e Yōga.
Nihonga hoje cobre uma ampla gama de temas e estilos como o contorno de toque leve em ‘noite de verão’, de Kansetsu Hashimoto e os detalhes intrincados de ‘Japanese White-Eye and Plum Blossoms’, de Shiho Sakakibara. Afinal, como podemos reconhecer uma pintura Nihonga?
3. Cores Naturais
Genso Okuda, Ravina de Oirase (outono), 1983, Museu de Arte de Yamatane
Os artistas Nihonga costumam fazer uso de materiais naturais para obter as cores que necessitam, incluindo minerais como azurita para o azul e malaquita para o vermelho.
Quanto mais finas as partículas desses pigmentos minerais, mais clara é a cor. Várias argilas e giz podem ser usados para tons de terra, enquanto um vermelho mais vibrante pode ser obtido de insetos, como larvas de cochonilha ou plantas como alburno ou árvores de garcinia.
Genso Okuda teve acesso a todo o conjunto de materiais modernos para criar esta cena de tirar o fôlego, mas as cores que ele usa podem ser atribuídas ao início do movimento Nihonga.
4. Folhas de Ouro e Prata
Kanzan Shimomura, O Monge Mendigo, 1915
Os japoneses alcançaram um nível incomparável de habilidade com folhas de ouro e prata, produzindo alguns dos exemplares mais finos do mundo, com apenas um décimo de milímetro.
Os artistas de Nihonga aproveitaram ao máximo isso, como podemos ver na obra ‘The Beggar Monk’, de Kanzan Shimomura. A riqueza de detalhes e o brilho do fundo coberto de ouro realmente forma uma composição tipicamente japonesa que encanta os espectadores.
5. Seda e Papel washi
Taikan Yokoyama, Aurora da Primavera sobre a Montanha Sagrada de Chichibu, Silk, 1928
Os artistas do nihonga defendiam um retorno aos materiais tradicionais como washi (literalmente ‘papel japonês’) e eginu (seda). Ambos materiais absorvem o pigmento de maneiras distintas e, ao fazê-lo, ajudam a criar a mistura suave de cores que é característica da Arte Nihonga.
Atualmente temos oportunidade de comprar estilos de papel washi que foram popularizados pelos artistas que os usaram, como o estilo Taikan. Para esta pintura, no entanto, Taikan Yokoyama usa uma grande tela de seda, que lhe permite alcançar a atmosfera enevoada perfeita.
6. Espaço vazio
Shoen Uemura, Neve emplumada, 1944, Museu de Arte de Yamatane
Uma das características mais marcantes da pintura japonesa quando contrastada com a europeia é o uso do espaço vazio. Essa distinção foi levada para o século XX pela arte nihonga.
Na neve emplumada de Shoen Uemura, o grande vazio transmite a sensação de intempérie, onde o horizonte se reduz à beira do guarda-chuva enquanto a gueixa tenta se abrigar do frio.
7. Contornos e Pinceladas
Gaho Hashimoto, paisagem enluarada, 1889
Enquanto yōga muitas vezes busca representar a realidade e foge de contornos fortes, Nihonga não tem a mesma intenção naturalista. A arte na tradição japonesa é entendida como uma representação criativa da realidade, não uma tentativa de recriar o mundo real de fato.
Na ‘paisagem enluarado’ de Gaho Hashimoto, as rochas são claramente delineadas, mesmo através da neblina. No entanto, esta visão é tão real quanto qualquer sonho poderia ser.
8. Temas Tradicionais e Nacionais
Taikan Yokoyama, Monte Penglai, 1948, Museu de Arte de Adachi
No inicio, o movimento Nihonga era conscientemente nacionalista. Escolas e associações que ensinam e promovem o novo estilo de arte japonês também encorajam a inclusão de temas tradicionais japoneses, em particular a iconografia religiosa como na representação de Taikan Yokoyama do ‘Monte Penglai’, uma montanha sagrada no budismo do leste asiático.
Nihonga foram produzidos inicialmente para serem usados em pergaminhos suspensos (kakemono), pergaminhos de mão (emakimono), portas de correr (fusuma) ou biombos (byōbu). No entanto, a maioria agora é produzida em papel esticados em painéis de madeira, adequado para o enquadramento. Pinturas Nihonga não precisam ser colocados sob vidro.
Atsushi Uemura, Sandpiper, 1994, Museu de Artes de Shohaku
A variedade de formas dentro da arte de pintura Nihonga é inumerável e, assim como Tenshin previu, tornou-se difícil traçar uma linha definitiva em torno do que exatamente compõe essa pintura tradicional japonesa. O estilo e técnicas usadas por Atsushi Uemura na obra ‘Sandpiper’ parecem muito distantes dos ‘retratos bijinga’ criados por sua avó Shoen Uemura.
Ainda assim, há algo indefinível e agradável que os une. Fica claro que a pintura Nihonga representa uma forma de beleza que a cada dia ganha mais admiradores ao redor do mundo.
Muitas dessas pinturas incríveis podem ser vistas em diversos museus no Japão, tais como Museu de Arte Adachi, Museu de Arte Yamatane, Museu de Artes Shohaku e Museu Sato Sakura. O que achou da arte Nihonga? Já tinha conhecimento sobre ela? Conte-nos nos comentários.
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