Novo comercial da Nike aborda bullying e racismo e gera um debate intenso no Japão
Apesar de ter atraído muitos apoiadores japoneses nas redes sociais, o novo comercial da Nike também foi alvo de muitos comentários negativos.
Desde seu comercial “Just Do It” de 1988, a marca esportiva Nike se tornou conhecida por produzir comerciais que geram debate e causam impacto nos telespectadores.
No ano passado, eles iniciaram um debate sobre as questões que a estrela do tênis Naomi Osaka tem que lidar em torno de sua etnia, e agora eles estão de volta para abordar outro assunto difícil: a experiência de jovens estrangeiros residentes no Japão.
O novo comercial é chamado de “動かしつづける。自分を。未来を. The Future Isn’t Waiting.”, com a parte em japonês se traduzindo em “Continue andando. Você mesmo. O futuro.” Já a parte do título em inglês pode ser traduzido como “O futuro não está esperando”.
Apresentando histórias baseadas na “experiência da vida real de atletas ”, o novo comercial mostra três futebolistas de diferentes origens no Japão – uma é japonesa, uma é coreana e uma é, como Naomi Osaka, mestiça, filha de pai negro e mãe japonesa – revelando como eles “superam suas lutas e conflitos diários para mover seu futuro por meio do esporte”.
Para entender melhor o comercial, caso você não entenda japonês, ative a legenda para o português através do botão de engrenagem (definições) no canto inferior direito:
https://www.youtube.com/watch?v=G02u6sN_sRc
Link do vídeo (YouTube)
O vídeo de dois minutos é uma visão comovente de como pode ser ser uma menina no futebol japonês. A japonesa sofre bullying na escola e luta para atender às expectativas dos pais de se destacar nos trabalhos escolares, com seu questionamento: “Sou boa o suficiente?”
Por outro lado, a garota japonesa com raízes negras luta para se integrar na escola, perguntando-se “Eu sou normal o suficiente?”, enquanto seus colegas japoneses a observam por sua aparência ser diferente e chegam a tocar em seu cabelo no banheiro feminino.
No vídeo, a garota pode ser vista assistindo a um vídeo de Naomi Osaka em seu celular e um dos comentários que costuma ser direcionado à jogadora de tênis: “Você é americana ou japonesa?”, parece acertar ela em cheio também, por viver a mesma situação.
Já a garota coreana, uma estudante transferida para o Japão, pode ser vista pesquisando sobre o “problema zainichi” no seu telefone. O termo “zainichi” significa “estrangeiro residente no Japão”, no entanto é frequentemente usado para se referir aos coreanos.
Como sabemos, as relações nipo-coreanas podem ser tensas e muitas vezes hostis devido a todo um contexto histórico, e essa garota é encarada ameaçadoramente na rua e se pergunta se deveria se destacar um pouco menos para fazer as pessoas gostarem dela.
No final, porém, as três garotas que vivenciaram todas essas inseguranças e pensaram que “Talvez eu apenas tenha que lidar com isso”, acabaram percebendo que não, elas não precisam lidar com isso. Elas não precisam esperar até um dia para que as coisas mudem e melhorem – elas farão isso acontecer, sendo quem elas são e tendo orgulho de suas etnias.
O comercial traz à tona o problema do bullying e questões raciais no Japão, e a forma como a Nike lidou com estas questões, atraiu muitos apoiadores japoneses nas redes sociais.
“Isso é incrível. Sinto como se nunca tivesse visto um comercial que abordasse a questão de morar no Japão e as minorias na publicidade japonesa.”
“Muito obrigado. Continue enviando mensagens importantes como esta.”
“Estou tão impressionado com a Nike. Obrigado!”
“Isso me fez chorar. Seria maravilhoso se pudéssemos impedir que os jovens tenham pensamentos como este.”
“Tão bom – estou sempre comprando Nike por causa de comerciais como este!”
Por outro lado, pelo fato de abordar questões delicadas na sociedade japonesa, houve um grande número de japoneses que ficaram ofendidos com o comercial, dizendo:
“O Japão é realmente um país cheio de discriminação? Parece que você está criando uma falsa impressão do Japão.”
“Você está cruzando a linha e fazendo os japoneses parecerem tolos.”
“Eu sinto que isso descreve os japoneses como extremamente desumanos.”
“Não é apenas no Japão – a discriminação também existe em outros países”.
“Não há bullying no Japão!”
“Nunca mais comprarei Nike!”
O vídeo causou muita repercussão e polarização e podemos perceber isso no grande número de curtidas e descurtidas que o vídeo recebeu, oscilando entre um e outro no decorrer dos dias.
Os comentários no próprio vídeo do YouTube também estavam cheios de observações odiosas e racistas de pessoas que parecem não enxergar o bullying como um problema no Japão, mesmo após o Ministério da Educação, Cultura, Esportes, Ciência e Tecnologia do Japão (MEXT) ter relatado 410.000 casos de bullying entre alunos do ensino fundamental e médio em 2017, indicando um aumento de cerca de 90.000 casos em comparação com o ano anterior.
Todos os comentários negativos e desagradáveis no vídeo realmente sugerem que a Nike atingiu em cheio o tendão de aquiles de algumas pessoas, com alguns comentaristas dizendo que isso só prova o quão necessário um comercial como este é na sociedade de hoje.
Quanto mais expormos o público japonês a histórias de bullying e racismo, mais eles serão capazes de reconhece-los e impedi-los, então, quando comediantes japoneses brincarem sobre a pele de Naomi Osaka estar “muito bronzeada” ou uma empresa japonesa “clarear” a pele da estrela do tênis em seu comercial, tal como aconteceu recentemente com a Nissin, as pessoas serão capazes de perceber o que está acontecendo e chamar a atenção sobre isso.
Abordar problemas como bullying e racismo no Japão não é difamar o país – é um estímulo gentil para melhorar a sociedade para todos, de modo que um dia, quando outra garota japonesa como Naomi Osaka se tornar grande no cenário mundial, as pessoas possam aceita-la por ser quem ela é, em vez de a questionarem continuamente sobre sua nacionalidade.
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