A complexa arte geométrica criada no fundo do mar pelos peixes baiacu no Japão
No Japão, o baiacu é uma iguaria, apesar de ser venenoso se não for preparado corretamente. Mas ninguém imaginava que também fosse artista. 🐡🐡🐡
Em 1995, mergulhadores japoneses notaram um lindo e estranho padrão circular no fundo do mar no Japão e, logo depois, mais círculos foram descobertos nas proximidades. Alguns compararam essas formações subaquáticos aos enigmáticos “círculos nas plantações”.
As formações geométricas vinham e desapareciam misteriosamente e, por mais de uma década, ninguém sabia o que as formava. Finalmente, o criador dessas formações notáveis foi encontrado: uma espécie recém-descoberta de peixe baiacu do gênero Torquigener.
Um estudo posterior mostrou que esses pequenos baiacu fazem esses belos círculos ornamentados, cerca de 25 metros abaixo do nível do mar, para atrair suas parceiras.
Imagem: bbc.co.uk
Embora os peixes tenham apenas 12 centímetros de comprimento, as formações que eles fazem medem cerca de 2 metros de diâmetro. São feitas depois de várias horas de trabalho em que o baiacu varre a areia com sua cauda. Como se as formas geométricas já não fossem surpreendentes o suficiente, os baiacus também decoram os círculos com pedras e conchas.
“Quando os círculos terminam, as fêmeas vem inspecioná-las. Se gostarem do que veem, se reproduzem com os machos“, disse Hiroshi Kawase, curador do Museu e Instituto de História Natural da Seção Costeira em Chiba, Japão. “Mas ninguém sabe exatamente o que as fêmeas procuram nesses círculos ou quais características elas acham desejáveis“, continua ele.
O acasalamento do baiacu envolve as fêmeas pondo ovos nos sedimentos finos no centro dos círculos, provavelmente para proteger seus filhotes de correntes oceânicas perigosas. Em seguida, os machos fertiliza-os externamente. Então, as fêmeas desaparecem e os machos ficam por lá por mais seis dias, provavelmente para proteger os ovos, observou o estudo.
No vídeo acima, conforme o “artista” se depara com pedras e conchas que interrompem seu desenho, ele as retira do caminho com a boca. Mas elas não são jogados fora. Em vez disso, o peixe as guarda como um toque final, colocando-as cuidadosamente sobre as cristas de sua obra-prima, que é nada menos que surpreendente em sua simetria e perfeição geométrica.
Ao contrário dos machos de outras espécies que dependem de seu tamanho, cor ou apêndices extravagantes para atrair a atenção de uma fêmea, o baiacu macho tem apenas uma coisa agindo a seu favor: a complexidade e impressionante da estrutura de areia que ele constrói.
“Os machos de algumas espécies de peixes ciclídeos são conhecidos por construir montículos em forma de cratera onde as fêmeas utilizam para fertilizar seus ovos“, disse Kawase. “Por exemplo, os ciclídeos machos do Lago Tanganica, na África, constroem pequenas tigelas com a areia e as exibem para as fêmeas antes de se acasalar lá“, disse Alex Jordan, pesquisador da Universidade do Texas em Austin, que não estava envolvido neste estudo.
Imagem: pikist.com
Mas os padrões geométricos desse novo baiacu têm três características nunca vistas antes. Primeiro, eles envolvem cristas e vales alinhados radialmente fora do local do ninho. Em segundo lugar, o macho decora essas cristas com fragmentos de conchas. Terceiro, o macho coleta sedimentos finos para dar à formação resultante uma aparência e coloração distintas.
“Estranhamente, o macho “coleta” os sedimentos finos usando o próprio padrão circular“, disse Kawase. Na verdade, a técnica de construção que o macho utiliza é varrer grãos de areia finos para o centro do projeto, enquanto os vales e as cristas da estrutura diminuem o fluxo de água em direção ao centro em cerca de 25%, protegendo os ovos que ali descansam.
Pássaro jardineiro do mar?
Leva cerca de sete a nove dias para o baiacu construir os círculos. No entanto, as correntes subaquáticas as levam embora com uma relativa rapidez. Kawase disse que eles provavelmente desistiram de suas antigas formações porque os círculos exaurem os sedimentos finos da área e, portanto, devem ser reconstruídos em áreas com sedimentos novos.
Quando Jordan ouviu falar sobre os círculos, ele imaginou que um peixe muito maior os teria criado. O fato de um animal tão pequeno fazer uma formação tão grande é “muito legal e sugere alguma razão biológica subjacente para o tamanho“. A pouca visibilidade em profundidade faz com que os machos façam ninhos grandes para serem encontrados pelas fêmeas.
A pesquisa que descreve as incríveis formações geométricas do baiacu foi publicada em julho de 2013 na revista Scientific Reports. “É um estudo limpo e agradável porque fornece uma resposta definitiva para a pergunta de algo que é muito raro na biologia”, disse Jordan.
Na mãe natureza, aves como o pássaro jardineiro, constroem uma espécie de “caramanchão” para o acasalamento. Nesse caso, as formações podem servir apenas para coletar sedimentos finos, que as fêmeas poderiam usar para escolher seu parceiro, disse Jordan.
Mas até que essa ideia seja testada, ninguém saberá. “ A única ressalva que tenho é que não há evidências de que as fêmeas se importem com nada mais do que areia fina, e mesmo isso é um exagero“, disse Jordan. “As belas linhas e estrutura podem servir apenas para canalizar essas partículas para o centro, e não têm nenhum propósito estético. ”
Embora Jordan diga que não acha que seja esse o caso, sua ideia transmite que os sedimentos finos são importantes para as fêmeas por serem “biologicamente” interessantes, sugerindo que a função dos círculos geométricos vai muito mais além do que a bela e criativa aparência.
Mas não podemos negar que a natureza é mesmo impressionante não é mesmo? Você se esforçaria tanto assim para impressionar seu parceiro amoroso? Você estaria disposto a passar sete dias, 24 horas por dia, esculpindo um design complexo, mas efêmero no fundo do mar? 🙂
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