Os dois extremos encontrados entre os estrangeiros que vivem no Japão
Ao deixarmos nossa terra natal para viver em outro país, precisamos basicamente escolher entre dois caminhos: Viver em uma bolha ou se integrar à sua cultura?
Trata-se de um gesto de bravura quando alguém resolve deixar seu país de nascimento para viver em outro, mesmo que por um período, em busca de uma vida melhor ou de uma experiência cultural, ainda mais se este país tem um idioma e costumes tão diferentes.
Aprendemos a lidar com o desconhecido e com as muitas surpresas, riscos e imprevistos que uma aventura como essa, inevitavelmente, vai nos oferecer durante o percurso.
De modo geral, existem alguns tipos de pessoas que podemos encontrar dentre os expatriados no Japão. Os dois primeiros que vamos exemplificar, tratam-se de dois extremos:
Há os que chegam com a intenção de se integrar o máximo possível, desejando se fundir com a cultura local, a ponto de quase abrir mão da própria cultura e há aqueles que se sentem melhor e mais seguros quando estão cercados pela comunidade do seu país de origem, vivendo em uma bolha segura, mesmo isso significando se afastar da cultura do seu país de adoção.
Muitas pessoas consideram a integração um desafio muito grande no Japão, como se houvesse um muro entre as duas culturas. A barreira linguística assim como uma série de padrões sociais específicos, pode tornar o processo de adaptação um pouco delicado em alguns casos.
Vivendo dentro de uma bolha
Imagem: photo-ac.com
Quase 3 milhões de estrangeiros vivem no Japão, segundo um relatório divulgado pelo Ministério da Justiça em março de 2020 (os dados são referentes ao ano anterior, 2019). Os brasileiros estão em quinto lugar em população, com 211.677 residentes no país.
A maioria dos brasileiros que vivem no Japão são dekasseguis (出稼ぎ), que literalmente significa “trabalhando distante de casa”, um termo designado a qualquer pessoa que deixa sua terra natal para trabalhar temporariamente em outra região ou país.
Imagem: photo-ac.com
O fato de deixar seu país de origem para se aventurar em outro, pode acarretar um misto de sentimentos diferentes em cada pessoa. Enquanto algumas podem se sentir extasiadas com essa mudança de vida e a possibilidade de conhecer uma nova cultura, há outras que podem se sentir desmotivadas com as dificuldades enfrentadas pelo caminho e as diferenças culturais.
Há ainda o misto dos dois. Chegam animados com as novas possibilidades de interação cultural, mas depois de uns anos se veem envolvidos por uma rotina desgastante de trabalho que os impede de vivenciar a cultura japonesa de maneira mais plena. Acabam caindo dentro de uma bolha, convivendo apenas com pessoas que compartilham sua nacionalidade.
Não que isso seja errado. Cada pessoa é livre para fazer suas escolhas e viver da maneira que achar melhor ou mais confortável. Mas é claro que o esforço para aprender o idioma e se adequar às questões sociais serão um plus que trarão muitos benefícios a longo prazo.
Um estranho no ninho
Imagem: photo-ac.com
Gaikokujin (外国人), ou simplesmente Gaijin (外人) significa “pessoa estrangeira”. Para muitas pessoas esse termo pode às vezes remeter a algo pejorativo, como se esta pessoa permanecesse um estranho para sempre no Japão, independente do tempo que reside no Japão ou dos seus esforços para aprender o idioma e se integrar à sua cultura.
Chegar em um país e se integrar a sua cultura significa absorver progressivamente sua língua e seus códigos sociais. Caso isso não aconteça, um estrangeiro costuma ser visto como um “estranho no ninho”, de acordo com o ponto de vista da maioria dos nativos.
Mesmo os estrangeiros de origem asiática podem enfrentar obstáculos no país. Embora muitas vezes sejam confundidos com um deles, algumas dessas pessoas tem dificuldade com interações mais profundas, especialmente devido a contextos históricos e políticos.
Outras pessoas, estabelecidas no Japão há anos ou décadas, mal falam japonês e não conseguem construir uma frase correta com seu vocabulário. Se isso é algo que incomode, talvez seja a hora de sair da bolha e estabelecer um vínculo com o país que o acolheu.
Imagem: pikrepo.com
Isso não significa que será uma tarefa fácil, afinal o Japão esteve isolado por muito tempo e o processo de lidar com os estrangeiros em seu país, vem acontecendo gradualmente. É necessário ambos saiam de suas zonas de conforto, pois dependem um do outro.
Como sabemos, o Japão vem lidando com o declínio da sua população e com isso a força de trabalho depende em parte dos estrangeiros que alavancam a economia do país. Por outro lado, o Japão é ponta de esperança de muitas pessoas para mudarem e/ou melhorarem de vida.
Embora não seja mais a “galinha dos ovos de ouro” que foi décadas atrás, o Japão ainda reacende na alma de muitos a vontade de dar uma virada, de colocar seus sonhos em prática, de construir algo pra si e para sua família, de dar um futuro digno para seus filhos.
Imagem: photo-ac.com
Cada vez mais brasileiros tem optado em morar definitivamente no Japão, em busca de estabilidade e especialmente de segurança, que como sabemos é um dos grandes problemas do Brasil. Com filhos nascendo no país e estudando em escolas japonesas, os pais se deparam com novos desafios e dificuldades, especialmente se não dominam o idioma.
Esse talvez seja uma consequência de muitos anos vivendo em uma comunidade a parte dentro do Japão. Por outro lado, há aqueles que procuram imitar os japoneses em tudo, exagerando nas expressões faciais, o que os fazem perder um pouco da sua própria identidade.
Acredito que ambas as culturas podem ocupar um mesmo espaço, desde que exista um respeito mútuo. Não é necessário abdicarmos da nossa essência. Devemos apenas colocar em prática aquele velho ditado popular: “o seu direito termina onde começa o do outro”.
A zona de conforto
Muitas dificuldades encontradas 10, 15 anos atrás, praticamente não existem mais. Se antigamente era preciso recorrer a cartões telefônicos internacionais e muitas vezes se locomover até orelhões públicos para dar um simples alô para a família, hoje temos as videochamadas pela internet que ajudaram a encurtar as distâncias e a saudade. A internet também viabilizou o acesso a muitas informações que antes não tínhamos.
Atualmente podemos encontrar muitas coisas traduzidas em português e outros idiomas no Japão, como placas, cartas da prefeitura, etc. Isso mostra que o Japão tem feito algo para facilitar a vida dos estrangeiros que residem em seu país. Porém tanta facilidade pode fazer com que as pessoas tenham ainda mais dificuldade de saírem da sua zona de conforto.
Mas se a intenção não é somente juntar dinheiro e ir embora em poucos anos, talvez valha a pena o esforço. Morar no Japão é uma oportunidade única que muitos gostariam de ter e não podem. Então, que tal aproveitar essa estadia para conhecer o Japão de verdade?
Dificuldades sempre haverão em qualquer lugar que nós estejamos. Devemos usa-las como degraus para nossa evolução pessoal. Não permita que isso te impeça de viver intensamente e absorver o máximo desta cultura tão ímpar, pois a aprendizagem que levará na bagagem com certeza terá um valor inestimável e até muito maior do que qualquer bem material.