Os dez mil portões Torii do Santuário Fushimi Inari Taisha, em Kyoto!
Raposas Guardiãs e 10.000 Portões Torii: Conheça um pouquinho sobre a história do icônico Fushimi Inari Taisha, um dos santuários mais magníficos de Kyoto!
Se tem um lugar icônico no Japão, este lugar é o Santuário Fushimi Inari Taisha (伏見稲荷大社) e seu famoso túnel com 10.000 portais japoneses tradicionais chamados Torii, localizado no Monte Inariyama, nos arredores de Kyoto. Na verdade, este é o santuário principal de mais de 30.000 santuários Inari em todo o Japão, também conhecido como “O-Inari-san”.
Foi construído por volta do ano 711 (Período Heian) pelo aristocrata Irogu no Hatanokimi do clã Hata e dedicou-o à divindade do arroz, Inari. Segundo Yamashirokoku Fudoki, um antigo documento, o aristocrata teria atirado uma flecha em um mochi (bolo de arroz) que se transformou em um cisne e voou para longe, pousando no pico de uma montanha.
Foi então que algo incrível aconteceu: Como um passe de mágica, arroz começou a crescer no local onde o cisne pousou. Pensando ser um sinal dos deuses, Irogu no Hatanokimi resolveu construir um santuário exatamente no local onde o pássaro havia pousado, e assim foi o início do Santuário Fushimi Inari, cujo terreno hoje, compreende uma área total de 87.000 m².
A imperatriz da época, Genmei, ficou doente e muitos atribuíram sua doença às muitas árvores que foram derrubadas no Monte Inari para a construção do pagoda de cinco andares do templo To-ji. Para apaziguar os deuses, a corte imperial resolveu conceder ao Santuário Fushimi Inari Taisha um status mais elevado, que na ocasião era apenas um santuário do clã Hata.
Com isso, o santuário passou a se tornar popular e passou a receber visitas de pessoas comuns. Após a divindade Inari Okami ser consagrada no primeiro Dia do Cavalo no segundo mês de 711, sacerdotes passaram a realizar festivais de primavera e outono no santuário, trazendo muita abundância e fartura para os agricultores e criadores de bichos-da-seda.
Inari (稲荷), o deus das colheitas, ou o deus do arroz, era uma divindade extremamente importante na sociedade agrícola do Japão antigo. Ao longo dos séculos, à medida que o Japão mudava da agricultura para a indústria, o santuário também passou a ser procurado por comerciantes e empresários que desejavam ter sorte e prosperidade em seus negócios.
Incendiado pela guerra e o movimento Shinbutsu Bunri
Durante o período Muromachi (1336-1573) houve uma grande guerra em Kyoto, e o santuário principal e outros edifícios foram incendiados. Mais tarde, o santuário foi reconstruído e o “grande unificador” Toyotomi Hideyoshi teve um papel importante nisso.
Durante o período Edo (1603-1868), quando o xogunato foi estabelecido, sub-santuários de Fushimi Inari começaram a se espalhar pelo Japão rapidamente. Durante a Restauração Meiji que marcou o fim do xogunato, houve uma guerra em Kyoto entre o xogunato e as forças pró-imperador, mas o Santuário Fushimi Inari foi poupado e quase não sofreu danos.
No entanto, nesse período ocorreu o “Shinbutsu Bunri”, um movimento religioso e nacionalista que visava separar o xintoísmo do budismo. Com isso, o salão budista culturalmente importante e as estátuas budistas foram destruídas. Apesar da enorme perda decorrente desse movimento, o santuário continua sendo um destino turístico japonês de renome mundial.
Por que há tantos toriis nesse santuário?
Os toriis, portões vermelhos, cobrem praticamente a montanha inteira no Santuário Inari Taisha. São aproximadamente 10.000 toriis que se espalham por 4 quilômetros e leva-se aproximadamente 2 horas para percorrer o percurso. Na visão xintoísta, os icônicos portais vermelhos representam a fronteira entre dois mundos, o mundano e o sagrado.
Mas você deve estar se perguntando: Por que há tantos toriis nesse santuário? Cada um deles foi doado por pessoas e empresas afim de terem seus desejos concedidos. Na parte de trás de cada torii é possível ver uma inscrição com o nome de quem doou. Foi dessa forma que surgiu esse labirinto infinito de portões torii, cuja visão é simplesmente magnífica.
Situado a 233 metros acima do nível do mar, o Mt. Inari não é uma montanha muito grande. No entanto, possui diversas trilhas que são excelentes para caminhadas. O edifício principal encontra-se na base do Inariyama, mas templos menores podem ser encontrados nas partes mais altas da montanha. Durante o trajeto as pessoas ainda tem a oportunidade de fazer uma pausa para uma xícara de chá e apreciar a bela vista da cidade de Kyoto.
Ao atravessar o túnel de portões toriis e caminhar entre os santuários e cemitérios espalhados entre as florestas de árvores e bambus, é impossível não nos impressionarmos com a beleza da natureza e a espiritualidade que esse lugar transmite. Trata-se de um local que realmente nos convida à reflexão e nos faz mergulhar profundamente na história e cultura japonesa.
Por que as raposas são as guardiãs do templo?
Uma das primeiras coisas que os visitantes notarão no Fushimi Inari Taisha são as raposas (Kitsune) que podem ser encontradas em todo o santuário. São consideradas mensageiros do deus do arroz, Inari. Duas grandes e imponentes raposas dos dois lados do portão principal guardam a entrada. As chaves na boca são as chaves que abrem os celeiros de arroz.
Os japoneses tradicionalmente também vêem a raposa como figuras misteriosas com poderes sobrenaturais, uma delas de assumir a forma humana — normalmente aparecem na forma de uma mulher bonita, uma jovem ou uma velha.. Histórias as descrevem como seres inteligentes e com capacidades mágicas que aumentam com a sua idade e sabedoria.
No local, encontramos lojas que vendem biscoitos com aparência de raposas, além de lojas de souvenires e artesanatos com essa mesma temática, incluindo placas de madeira “ema” com fotos de raposas onde é possível escrever um desejo, na esperança de que seja realizado.
Durante o festival Hatsuuma Taisai, por exemplo, os visitantes também tem a oportunidade de adquirir engimonos (amuletos da sorte), em especial, ramos de cedro chamados shirushi no sugi, que dizem trazer sorte e prosperidade nos negócios.
Esse festival pode ser traduzido como o “Primeiro Festival do Dia do Cavalo” e é realizado no primeiro dia do cavalo no mês de fevereiro.
Além deste, muito outros eventos são realizados no Santuário Fushimi Inari Taisha ao longo do ano tais como o Sangyo-sai (abril), Inari-sai, Kanko-sai (maio), Motomiya-sai (julho), Koin Taisai, Nukiho-sai (outubro), Hitaki-sai, Mikagura (novembro), Oharae-shiki (dezembro), Seinen-sai (janeiro), Setsubun-sai (fevereiro), etc. Confira o calendário com todos os eventos do santuário.
Se você estiver pensando em visitar Kyoto, não deixe de conhecer esse magnífico santuário. Com certeza, vai se surpreender com tudo que encontrar nesse local. Caso já tenha visitado esse santuário, compartilhe conosco suas impressões. Se ainda não teve oportunidade de ir, aproveite para ver os vídeos abaixo para ter uma ideia de como este lugar é incrível.
Informações sobre o Santuário Fushimi Inari Taisha
Endereço: Japão, 〒612-0882 Kyoto, Kyoto, Fushimi-ku, Fukakusa Yabunouchicho, 68 [Mapa]
Telefone: +81 75-641-7331
Website: inari.jp/en
PS: A melhor opção é utilizar o transporte público para chegar ao santuário, uma vez que as áreas de estacionamento ao redor do santuário são muito cheias.
Acesso por trem: A partir da estação de Kyoto, desça na estação JR Inari (JR Nara Line). A seguir pegue o trem para a estação Fushimi-Inari (Keihan Line). Caminhe 5 minutos a pé sentido leste até o santuário. Acesso por ônibus: 7 minutos a pé sentido leste a partir da parada de ônibus Inari Taisha-mae, Minami 5 line.
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