Filme Corações Sujos – Shindo Renmei

Um filme dirigido por Vincente Amorim: Corações Sujos, homônimo do Livro de Fernando Morais, que fala sobre os atritos na colônia japonesa, no pós guerra.

Corações Sujos foi uma Super Produção dirigida por Vincente Amorim, adaptado do livro com mesmo nome do escritor Fernando Morais. O filme fala sobre a colônia japonesa, dos atritos e dos grupos que se dividiram, após a Segunda Guerra Mundial.

O filme foi exibido no Japão, onde recebeu muitos elogios. Eu ainda não li o livro Corações Sujos de Fernando Morais, mas pelo pouco que soube, é um livro excelente, que prende do início ao fim e retrata fielmente as passagens dos imigrantes num momento de muita tensão que foi aquela época. E o filme é fantástico também, a começar pelos artistas escalados, já que alguns deles estão entre os melhores atores japoneses da atualidade:

Entre eles Eiji Okuda, um dos atores e diretores de cinema e teatro mais premiados do Japão; Tsuyoshi Ihara, protagonista de Cartas de Iwo Jima, de Clint Eastwood; Shun Sugata (de O Último Samurai e Kill Bill); Kimiko Yo (do filme A Partida, vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2009), e ainda Takako Tokiwa, uma das maiores estrelas da TV japonesa.

Ter que dirigir um elenco que em sua maioria falava apenas japonês foi um desafio, diz Amorim, mas menos difícil do que ele imaginava. “Talvez seja lugar-comum dizer isso, mas existe uma linguagem comum do cinema. Como ensaiamos muito, na hora de filmar todas as grandes duvidas já tinham sido resolvidas. O elenco estava em sintonia, mas o grande segredo foram os ensaios”, revela.

Quanto ao elenco brasileiro, tem os atores nikkeys Celine Miyuki, Henrique Kimura, Issamu Yazaki, Ricardo Oshiro, Ulisses Sakurai, Ken Kaneko, Emi Kibe e Talles Hasegawa e os brasileiros André Frateschi, Dirceu de Carvalho,Rogério Britto, Thiago Balieiro e o renomado ator Eduardo Moscovis.

Do que trata o filme Corações sujos?

Corações Sujos aborda a dificuldade que muitos japoneses no Brasil, tinham de aceitar a derrota do Japão durante a Segunda Guerra Mundial, a extrema cegueira e obediência pelo Imperador, onde o tinham como uma “divindade” e sobre Shindo Renmei, uma associação terrorista criada no interior de São Paulo.

A Shindo Renmei matou, pelo menos, 23 pessoas e feriu outras 147, em sua maioria imigrantes de origem japonesa (isseis). Tinham um senso nacionalista e matavam por patriotismo, pelo Imperador e por não aceitarem que outros japoneses acreditassem na derrota do Japão, alegando que estes estavam traindo o Imperador.

Boa parte de quem participava da Shindo Renmei era formada pelos Kachigumi, os vitoristas, ou seja aqueles que acreditavam piamente na vitória do Japão e a obsessão era tanta, que eles chegavam a falsificar notícias de que o Japão teria sido vitorioso, além de perseguir os makegumi.

Os Makegumi, eram os chamados derrotistas, os corações sujos, eram também os mais conscientes sobre a situação no Japão e também os mais adaptados ao Brasil. Apesar de serem em menor número, eram considerados os mais prósperos, justamente porque não viviam com a cabeça apenas no Japão. Tocavam suas vidas e trabalhavam para prosperar.

Enfim, dois grupos da mesma nacionalidade e rivais se formaram e então, os Makegumi, viraram alvo dos Kachigumi. Eles mandavam cartas para os “supostos traidores” convidando-os a se suicidarem para lavar a honra. Na carta, geralmente era escrita assim: “Você tem o coração sujo, então deve ter a garganta lavada” (isto é, deverá ter a garganta cortada por uma espada katana).


Nenhum deles aceitou e foram mortos por membros jovens da Shindo Renmei, os tokkotai. Matavam com armas de fogo ou cortando a garganta do opositor com a espada Katana e como sabiam sobre as leis no Brasil, se entregavam à polícia logo após o assassinato.

Enfim, o filme aborda todos esses aspectos obscuros vividos pelos imigrantes japoneses na década de 40, assuntos tabu da colônia japonesa, já que muitos se calam sobre os fatos e nem gostam de comentar sobre Shindo Renmei.

Ao assistir o filme, conheceremos mais sobre essa época que pouca gente conhece e sobre o verdadeiro significado de “Yamato Damashii”, o espírito japonês, onde o orgulho, a honra e o patriotismo estão acima de tudo, inclusive matar ou morrer. Quase um faroeste nipobrasileiro.  ^ _ ^ Vale a pena conferir!

Assista Corações Sujos Legendado


Filme Corações Sujos legendado (YouTube)

Assistiu o filme Corações Sujos? O que achou? Deixe seu comentário. Ah, e assista também a minissérie Haru e Natsu – As cartas que não foram entregues, que também aborda um pouco esse tema, porém de forma mais superficial. Também é uma ótima história sobre imigrantes japoneses no Brasil.

19 Comments

  1. Caroline

    O livro é bom, mas é bem forte, pesado…
    Acho que o filme deve ser bem forte também, no estilo dos dramas japoneses (eu sempre me acabo de chorar nos dramas japoneses rsss)

  2. Douglas

    Vou procurar para vê ^^

  3. Roberto Chagas

    Uma vez vi o livro em uma livraria, de repente vejo na internet que o filme daquele livro que outrora tinha visto será lançado no cinema, corri para comprar o livri, achei uma excelente literatura ainda mais escrita por um brasileiro que não tem nehuma ligação nipônica! Indico a todos que lenham o livro, até mesmo para entender melhor o filme, são muitos nomes e situações diversas.

    O livro é bem detalhado quanto a formação da Shindo Renmei e seus patricios, mas vi em um macking of que o filme não integrará por completo o livro, mas tenho certeza que não deixará de ser emocionante.

    Vi também que os atores brasileiros se impressionaram da forma como os atores japoneses prestavam a atenção e toda a sua postura nas filmagens.

    Não tenho duvidas que o ator Tsuyoshi Ihara se superará novamente assim como fez no atual e excelente filme 13 Assassinos (fica a dica)!

    Um forte abraço “japão em foco” e a todos os internautas amantes (como eu) dessa extraordinária cultura!

    Banzai Nippon!

  4. Japão em Foco

    Oi Roberto!
    O livro deve ser muito bom… Quero comprá-lo também, mas acho que irei assistir ao filme primeiro, até porque ainda não encontrei esse livro por aqui onde moro! Já ouvi falar desse filme “13 Assassinos”… dizem que é muito bom…. obrigado pela dica! Abraços!

  5. takako

    Parabéns ao diretor Vicente Amorim, por relatar esta parte da história que acredito que muita gente desconhece. Como sou filha de imigrantes japoneses, meu pai sempre nos contou que fizera parte do comando dos “Kachigumi”. Hoje papai está com 90 anos e ainda lembra de todos os detalhes como se fosse hoje… Durante a 2a guerra, ele queria voltar ao Japão para lutar e morrer pela Pátria!! Fim da guerra, ele não suportou, não acreditou que o Japão fora derrotado.
    A revolta foi tanta que ele começou a organizar, comandar um grupo para exterminar o grupo “makegumi”…
    Estava já a ponto de exterminar muita gente, quando fora preso…
    Na prisão, recebeu muitos conselhos de todos os amigos e parentes
    e aos poucos se conformou e caiu em si, a “burrada”que quase cometeu.
    Agradeço muito a Deus, por ter impedido o pior e também ter prosseguido a sua vida até hoje sempre juntos…….
    Muito obrigada a todos da produção e aguardo ansiosamente a estréia!!!

    Agradeço muito a Deus, por ter impedido essa tragédia, senão não teria nascido

  6. Japão em Foco

    Oi Takako!
    Muito legal o seu depoimento! Obrigada por compartilhar conosco! Eu também tô ansiosa para a estreia do filme… Não vejo a hora! Também quero comprar o livro, que geralmente vem recheado de bem mais detalhes do que o filme! Depois que assistirmos, vamos postar aqui o que achamos e quais as impressões que tivemos por esse momento tão fragilizado do Japão, mas que afetou por demais os japoneses que estavam aqui no Brasil. Tenho certeza que será um aprendizado e tanto!
    Abraços!

  7. Roberto

    “Japão em Foco”

    Eu assisti o filme no domingo agora (19/08), eu achei EXCELENTE!!!!!

    Como havia falado antes, eu li o livro (e recomendo a todos) o filme não foge muito do livro (mas como na maioria das vezes o livro é muito mais completo) trata-se de uma história romântica e ao mesmo tempo violenta dentro do contexto do surgimento da Shindo Reinmei (apesar que o filme não fala diretamente sobre o Shindo), a atriz Celine Miyuki foi a melhor! Ela interpretou super bem o seu papel isso porque li em uma reportagem que ela nunca tinha atuado antes e o ator Ken Kaneko também foi muito bem!!!!! E o elenco japones…. sem palavras, superou todas as minhas expectativas, eles são ótimos, e li em outras reportagens que a equipe e atores do filme só deram elogios aos japoneses, dizem que são muito calmos e focados, mas que trabalhar com eles foi uma experiência impar!!!

    Vale muito a pena assistir, levei minha mãe (isso que ela nem curte essas coisas) e ela até chorou!!!! kkk

    Takako, seu comentário me surpreendeu!!!! Deve ser muito interessante ter um membro da família que participou de um evento histórico, por putro lado, ao saber de tudo isso bate até um alívio por ele ter se conscientizado sobre as consequências dos atos planejados. Seu avô tem uma grande bagavem de histórias vividas. E não deveria ter sido fácil pra ele ter aceito a derrota do nosso Japão.

    Mas na minha opinião a criação da Shindo foi um grande erro, imagino que os japoneses já nascem com essa questão de vitória suprema da pátria, mas muit sangue inocente foi derramado somente pelo fato de aceitarem a derrota e seguirem suas vidas.

    Tem uma parte do livro que é um marco na história da cidade de Oswaldo Cruz, em 30 de julho de 1946 quando um integrante da Shindo entra em um bar e atira em um makegumi (que era muito querido pelos moradores) em seguida houve um outro assassinato também, depois disso houve um tumulto muito grande dos moradores da cidade a qual se juntaram com pau e pedra e linxaram qualquer descendente que passava pela rua sendo homem e mulheres. Entre muitas outras histórias lamentáveis…

    Hoje temos uma visão dos descendentes, vimos que muitos ou a grende maioria tem uma condição de vida muito boa, são inteligentes, se destacam em tudo, são confiaveis e são muito bons (isse é o meu olhar como acho que é o da maioria, pois não sou descendente).

    Mas muita gente não faz idéia como os japoneses sofreram no Brasil, foram maltratados, humilhados pelos brasileiros na época da guerra, eram chamados de “bodes”, “amarelos”, “burros”, os brasileiros batia em idosos, trabalharam muito, apanharam muito na época da Shindo, pois a polícia generalizava a situação, então pra eles qualquer “bode” era suspeito.

    Uma coisa eu falo com muito orgulho, tudo o que vemos hoje dos descendentes é fruto de muito esforço, trabalho, respeito (pois eles não revidavam as provocações dos brasileiros), disciplina e força de vontade. Eles merecem estar aonde estão hoje e ter esse reconhecimento. É por isso que eu amo essa cultura estraordinária, porque não tempo ruim para os japoneses, não tem desculpas, ele se entregam por completo quando querem um objetivo, tudo é possível com esforço e dedicação.

    Desculpe se escrevi muito mas espero ter contribuido com alguma coisa, essas são as mais sinceras palavras de alguém que queria ser como vocês… descendente!

    Abraços

  8. Japão em Foco

    Oi Roberto!

    Você como sempre fazendo belas contribuições ao blog! Nem se preocupe com a quantidade do que escreve, pois tudo que escreve é com muita inteligência e sensatez e pode ter certeza que está enriquecendo ainda mais o blog Japão em Foco. Lembrei do que você escreveu certa vez, sobre o estereótipo de que os japas aqui do Brasil são considerados muito inteligentes e pessoas bem sucedidas… a maioria dessas pessoas, nem imaginam que antes do tratado de imigração japonesa no Brasil, o governo brasileiro não queria imigrantes africanos e nem asiáticos. O motivo?

    Consideravam essas raças inferiores aos brancos e tinham medo de que essa “invasão amarela” tomasse conta do território brasileiro, além do fato da cultura japonesa ser muito diferente da do Brasil. Nos jornais da época, jornalistas faziam muitas críticas aos imigrantes japoneses. O que chegava mais perto de um elogio foi uma notícia que circulou, dizendo que os imigrantes japoneses que chegavam eram “limpos” ao serem comparado-os ao imigrantes europeus.

    Aqui, no Brasil, eles foram submetidos à péssimas condições de trabalho e maus tratos, além de serem obrigados a comprar somente no mercado da fazenda em que trabalhavam, que vendiam os produtos à preços exorbitantes. Isso fez com que as dívidas ficassem enormes e impossibilitando o regresso deles ao Japão. Por outro lado, ao optarem ficar no Brasil, contribuíram de forma significativa para o desenvolvimento do país e fez com que tivéssemos acesso a essa cultura tão interessante e diferente daqui da terrinha tupiniquim.

    Bom, acho que também escrevi demais rs!
    Abraços!

  9. achei legal a explicação historica do filme vou,se coloco no meu website

  10. Japão em Foco

    Oi Levi!
    Que bom que gostou do artigo!
    Abraços!

  11. Pingback: kenkoku kinen no hi - Dia da Fundação Nacional | Curiosidades do Japão

  12. RYAMA06

    Fernado Morais cita que, em algumas cidades do interior de São Paulo, houve uma vergonhosa perseguição indiscriminada aos japoneses. Uma verdadeira caçada aos japoneses que lá residiam. Alguém pode me explicar porque Fernando Morais não quis citar nenhuma família que realizou essas perseguições argumentando que elas ainda moram e vivem por lá, e em contrapartida cita todas as famílias japonesas que participaram do Shindorenmei?

  13. Japão em Foco

    Oi Ryama!
    Infelizmente eu não sei te dizer o motivo por ele não ter dado nomes aos bois… Quem sabe as famílias tenham pedido que os seus nomes não fossem divulgados. Não sei se foi isso, mas é uma hipótese né! Abraços!

  14. Arminda

    Ja assisti o filme!….muito bom!.

  15. Japão em Foco

    Oi Arminda!
    Obrigada por compartilhar o link! Abraços!

  16. Maria LOpes

    PF; Onde comprar os DVD dos filme? Gosto muito de assistir e frequentar cine club. Obrigada. d

  17. Julia

    Mas isso é real aconteceu e não é drama japonês pelos comentários aqui

  18. Paulo B. da Rosa

    Deverá ser um grande sucesso!
    Apenas para constar: o termo nikkey é usado por japoneses para descendentes e empresas que vivem e atuam fora do Japão. Portanto o termo para descendentes que vivem no Brasil seria Nipo Brasileiros.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *