Hanaoka Seishu, o cirurgião japonês considerado o “avô” da anestesia geral
Em 1804, Hanaoka Seishū tornou-se o primeiro médico a realizar cirurgias bem sucedidas usando anestesia geral. Conheça um pouco da sua história.
Em 14 de novembro de 1804, Hanaoka Seishū, um médico japonês, tornou-se o primeiro a realizar cirurgias bem sucedidas usando anestesia geral. Seishu nasceu em 23 de outubro de 1760, em Wakayama, no Japão. Nesta época o Japão vivia a Era Feudal sob o governo de Xogunato Tokugawa que se caracterizava em manter o país isolado do Ocidente.
Os estrangeiros foram banidos do Japão e o país foi impedido de entrar em contato com todas as outras nações, exceto a Holanda. Comerciantes holandeses, que só foram autorizados a entrar em Nagasaki, foram responsáveis pela introdução da prática de cirurgia para o Japão.
Dos 22 aos 25 anos, Seishu estudou medicina em Kyoto e torou-se cirurgião em 1785, em sua cidade natal, Wakayama. Embora ele tenha estudado medicina ocidental em Kyoto, a medicina tradicional chinesa foi o que inspirou suas pesquisas sobre anestesia.
Durante a vida de Seishu, a medicina chinesa era mais popular que a medicina ocidental . Em seus estudos sobre medicina chinesa, Seishu encontrou lendas sobre um famoso cirurgião chinês chamado Hua Tuo, que teria usado um anestésico em suas cirurgias.
Flor Datura, usada como emblema da Sociedade Japonesa de Anestesia
Inspirado por tais histórias, Hanaoka fez experimentos combinando diferentes plantas com efeito analgésico e hipnótico — Datura , Aconitum e Angelica –, mas tóxicas, dependendo da dosagem. Após testes em cachorros e gatos, pensou ter encontrado a fórmula correta. Precisava testar em humanos, e sua esposa foi voluntária. Infelizmente essa mistura a deixou cega, levando Hanaoka a viver o restante de sua vida com a culpa pelo fato.
Após 20 anos de novas experimentações, conseguiu uma fórmula adequada de ervas que, fervida e ingerida ainda quente, deixava o paciente inconsciente e insensível à dor. A anestesia que funcionava como um narcótico durava de 6 a 10 horas. Com isso, pôde remover, em 1804, um câncer no seio da senhora Kan Aiya, sem lhe causar dor ou outros efeitos indesejados.
Chamada de Tsusensan, essa bebida anestésica permitiu que Seishu pudesse tratar uma ampla gama de doenças e realizar cirurgias mais sérias. Tomio Ogata escreveu que Seishu foi capaz de cuidar de “feridas, traumas, inflamações, úlceras, malformações e tumores, incluindo câncer”, além de realizar cirurgias plásticas e amputações.
No entanto, sua carreira é particularmente reconhecida por causa de suas cirurgias para remover o câncer de mama, do qual ele supostamente realizou cerca de 150. Muitos de seus procedimentos podem ser vistos através de ilustrações no livro de casos de Seishu.
Os procedimentos cirúrgicos inovadores de Hanaoka Seishu lhe renderam fama no Japão. Seishu tornou-se um renomado cirurgião que atraiu a atenção e admiração de outros proeminentes médicos de sua época, como Genpaku Sugita, “o pioneiro e fundador do aprendizado holandês e da medicina ocidental no Japão.” Seishu manteve o conhecimento de como realizar seus procedimentos em segredo, apenas passando-os para seus alunos.
Apesar disso, sua reputação se espalhou, particularmente após a Restauração Meiji de 1868, quando o conhecimento de suas práticas foi amplamente divulgado. Tratava-se de algo inovador na época. Com a introdução do uso de éter e do clorofórmio, inventadas décadas depois por médicos norte-americanos, a técnica de Hanaoka deixou de ser usada.
Mas ele será sempre lembrado pelo seu pioneirismo, representado pela flor da datura, o principal ingrediente de sua fórmula, no emblema da Sociedade Japonesa de Anestesia. Merecia o reconhecimento internacional, com um respeitoso título de “avô da anestesia”.