10 fatos excêntricos sobre Katsushika Hokusai, o ícone das xilogravuras Ukiyo-e
Hokusai usou 30 pseudônimos diferentes e desejava viver até os 110 anos. Conheça algumas curiosidades sobre o famoso pintor que revolucionou a arte ukiyo-e.
Katsushika Hokusai foi um grande pintor ukiyo-e do período Edo. Traduzidas como “Retratos do mundo flutuante”, pintores ukiyo-e fizeram gravuras em xilogravuras retratando temas populares – de atores kabuki a lutadores de sumô, belezas femininas e paisagens famosas.
Durante sua carreira, Hokusai revolucionou esse estilo com a sua própria abordagem do gênero. Ele ficou famoso mundialmente com a série de gravuras em xilogravuras “Trinta e seis Vistas do Monte Fuji“, que inclui a icônica gravura “A Grande Onda de Kanagawa”.
Apesar do trabalho de Hokusai ser reconhecido internacionalmente, pouco se sabe sobre o artista. Em comemoração aos 260 anos de Hokusai, será lançado em 2021 um filme sobre a sua vida. Confira o trailer do filme “Hokusai” que será lançado primeiramente no Japão:
O filme, baseado em fatos históricos, se constrói a partir de dois personagens principais: Tsutaya Juzaburo, editor que descobriu e despertou o talento do jovem Hokusai; e o popular escritor Ryutei Tanehiko, que se tornou parceiro de Hokusai na terceira idade.
O papel do artista é dividido em duas fases, ficando a cargo de Yuya Yagira, que recebeu o prêmio de Melhor Ator por sua atuação em “Ninguém pode Saber” no 57° Festival de Cinema de Cannes; e o dançarino internacional Min Tanaka, premiado por suas performances.
Para atiçar sua curiosidade sobre o filme, reunimos algumas curiosidades excêntricas sobre esse gênio da arte, que além de divulgar o Japão para outros países, influenciou grandes artistas pelo mundo afora, tais como Vincent Van Gogh, Claude Monet e Edgar Degas.
Segundo Van Gogh, “vemos mais com o olhar japonês, sentimos as cores de maneira diferente”. Hokusai teve uma trajetória de vida fascinante. Não é por acaso que o artista foi considerado pela revista Life como uma das “100 pessoas mais importantes dos últimos 1000 anos”.
1. Ele era um aprendiz de entalhador aos 14 anos
Natural de Edo (atual Tóquio), Hokusai começou a pintar muito jovem, aos seis anos de idade, no qual “tinha o hábito de desenhar coisas que via ao seu redor”. No Japão do século 18, a leitura de livros feitos de blocos de xilogravura era uma forma popular de entretenimento.
Então, aos 14 anos, o artista tornou-se um aprendiz de entalhador de madeira e mais tarde foi aceito no estúdio do estimado pintor e gravador Katsukawa Shunsho.
2. Hokusai foi expulso da escola que o treinou
Quando Katsukawa Shunsho morreu, Hokusai permaneceu na escola que Shunsho havia estabelecido e o artista começou a trabalhar com Shunko, discípulo chefe de Shunsho.
Durante esse período, Hokusai começou a explorar outros estilos de arte e foi influenciado pelas gravuras francesas e holandesas que foram contrabandeadas para o país durante uma época em que o contato com a cultura ocidental era proibido pelo Xogunato.
Suas xilogravuras começaram a incorporar elementos do colorido e da perspectiva que ele tinha visto no trabalho ocidental, revolucionando completamente o estilo de arte ukiyo-e. Quando Shunko percebeu o que estava acontecendo, ele expulsou Hokusai da escola Katsukawa.
Mas acabou sendo uma benção disfarçada: “O que realmente motivou o desenvolvimento do meu estilo artístico foi o constrangimento que sofri nas mãos de Shunko“, refletiu Hokusai.
3. Hokusai usou pelo menos 30 nomes diferentes
Era comum os artistas japoneses usarem pseudônimos, mas Hokusai chegou a usar pelo menos 30 nomes diferentes durante sua vida, mais do que qualquer artista da sua época.
Ele publicou pela primeira vez uma série de trabalhos em 1779, que foram lançados sob o pseudônimo de Shunro, nome criado por seu primeiro mestre, Shunsho. Mais tarde, ele se referiu a si mesmo como Gakyo rojin manji (O Velho Louco por Arte). Seus nomes eram frequentemente usados para identificar diferentes estilos e períodos de produção.
4. Ele foi o primeiro artista a usar o termo “Mangá”
O termo “mangá” é associado hoje em dia a um tipo de histórias em quadrinhos japonesa, mas originalmente, significava algo como “desenhos aleatórios”. Supostamente o termo sofreu uma adaptação a partir de um estilo desenvolvido por Hokusai no final do século XIX.
Em 1811, Hokusai criou o Hokusai Manga, que continha imagens divertidas para seus alunos e outros aspirantes a artista copiarem. Tornou-se um best-seller e um dos primeiros usos registrados do termo manga, embora esteticamente seja bem diferente do manga moderno.
5. O artista atingiu o auge da sua carreira aos 60 anos.
Grande parte da sua vida foi dedicada a arte. O trabalho mais importante e conhecido de Hokusai foi produzido depois que ele completou 60 anos de idade. Na época, ele criava xilogravuras de vários temas. Suas principais obras mostram paisagens incluindo cachoeiras, pontes, pássaros e flores e também mostram a vida cotidiana no Japão da época.
Sua maior obra foi um conjunto de 4.000 esboços em 14 volumes, publicado em 1814. É possível observar que todas as suas criações apresentam a mesma delicadeza e atenção aos detalhes que o tornaram um dos grandes representantes da arte japonesa no período.
6. Ele planejou viver até os 110 anos de idade
Hokusai estava convencido de que veria seu melhor trabalho quando chegasse aos 110 anos de idade. Ele abraçou totalmente a velhice e tinha grandes planos para cada marco após os 50. “Quando eu tiver 80, você verá um progresso real”, disse ele. “Aos 90, terei penetrado profundamente no mistério da própria vida. Aos 100, serei um artista maravilhoso.”
“Aos 110, tudo que eu crio, um ponto, uma linha, ganhará vida como nunca antes. A todos vocês, que viverão tanto quanto eu, prometo manter minha palavra. Estou escrevendo isso na minha velhice.” Palavras ditas por ele, em um dado momento da sua vida.
Infelizmente, ele não chegou aos 110 anos, mas quase alcançou os 90. Hokusai faleceu aos 88 anos, algo incomum em uma época em que as pessoas morriam muito jovens, devido a doenças. Em seu leito de morte, ele supostamente disse: “Se o céu me desse apenas mais dez anos… Apenas mais cinco anos, então eu poderia me tornar um pintor de verdade“.
Antes de morrer, virou poesia, ou haikai, deixando o seguinte escrito: “Agora como espírito, devo atravessar os campos de verão“. Mal sabia ele, que seu nome seria imortalizado pelo grande legado que deixou. Entre os mortais, Hokusai ainda vive através de suas obras.
7. Ele criou mais de 30.000 obras de arte
“A Grande Onda de Kanagawa”, é com certeza sua obra mais famosa, mas nem de longe ela é a única. A dedicação de Hokusai pela arte começou cedo e no fim de sua vida, trabalhou com uma energia acelerada, levantando-se cedo para pintar e continuando até tarde da noite.
O artista chegou a produzir 30.000 obras de arte, incluindo pinturas, esboços, gravuras em xilogravura, livros ilustrados e até mesmo algumas ilustrações eróticas (Shunga). Infelizmente seu estúdio e grande parte dessa produção foram destruídos por um incêndio em 1839.
8. Há mais de 36 gravuras em “Trinta e seis Vistas do Monte Fuji”
A série de xilogravuras mais conhecida de Hokusai, “Trinta e seis Vistas do Monte Fuji”, foi concluída entre 1826 e 1833. Apesar do título, são na verdade 46 gravuras que mostram o Monte Fuji a partir de diferentes ângulos, diferentes estações e condições climáticas.
9. Hokusai seguiu a escola de Budismo Nichiren
A escola Nichiren era uma seita que acreditava que o Monte Fuji estava associado a vida eterna. A lenda dizia que o segredo da vida eterna estava em seu cume.
Hokusai adotou essas crenças em sua própria filosofia e dizem que suas representações do Monte Fuji estão relacionadas ao simbolismo religioso.
Outra vez que a sua religião influenciou seu trabalho foi em 1804, durante um festival em Tóquio. Ele criou um retrato gigantesco do sacerdote budista Daruma, medindo 180 metros de comprimento, usando apenas uma vassoura e alguns baldes de tinta.
10. Sua filha também era artista Ukiyo-e
Hokusai se casou duas vezes na vida e teve dois filhos e três filhas. Após se divorciar, sua filha mais nova, Katsushika Oei, acabou seguindo os passos do pai. A dupla passava o dia inteiro pintando e Oei até ajudou o seu genitor na produção de muitas de suas gravuras. Pouco conhecida, infelizmente não há muitas obras da artista circulando pelo mundo.
Dizem que os dois viviam como nômades, pois mudavam de lugar a medida em que a vida desregrada se desajustava. Acredita-se que Hokusai tenha se mudado 93 vezes.
Oei foi retratada em 2017, no filme Kurara: hokusai no musume, dirigido por Takao Kato e estrelado por Aoi Miyazaki. O filme foi baseado no romance “Kurara” de Makate Asai (publicado em dezembro de 2014 a novembro de 2015 na revista literária Shosetsu Shincho).
Uma série de mangás dos anos 1980, chamada Sarusuberi: Miss Hokusai e ilustrada por Hinako Sugiura, conta a história da artista ao lado do pai. O diretor Keiichi Hara adaptou história em quadrinhos para animação, em 2015. Apesar do seu valor biográfico, a obra é recheada de elementos da ficção, incluindo referências da mitologia japonesa e budistas.
Museu dedicado a Katsushita Hokusai
Gostou de conhecer um pouquinho mais sobre a vida de Katsushita Hokusai? Se você é fã de suas obras, então precisa conhecer o Sumida Hokusai Museum, um museu inteiramente dedicado ao famoso e talentoso pintor Ukyio-e. Inaugurado em 2016, o museu está localizado em Sumida, Tóquio, lugar onde Hokusai nasceu e passou a maior parte de sua vida.
Os quatro pavimentos do museu abrigam uma coleção de mais de 1.800 obras. A galeria permanente do museu está localizada no quarto andar e concentrada em uma única sala relativamente pequena, porém repleta de arte e informações interessantes.
O museu contém uma exposição permanente com réplicas de alta resolução da arte de Hokusai com painéis touch e informações multilíngues sobre sua vida e obra. A arte original de Hokusai pode ser vista nas exibições temporárias, que vão sendo alternadas ao longo do ano.
No primeiro andar, ainda há uma loja e uma biblioteca que oferece livros sobre arte japonesa, especialmente ukiyo-e. O museu de quatro andares já é uma obra de arte em si, um exemplo notável da arquitetura moderna projetada pelo famoso arquiteto japonês Sejima Kazuyo.
O conceito por trás dessa inovadora e intrigante arquitetura era que o museu pudesse ser acessível a todos e de todos os lados, resultando em passagens que cortam o prédio ao nível do solo e levam à entrada do museu no centro, na forma de passarelas e aberturas. Fendas angulares na fachada reflexiva do edifício levam a luz natural para dentro das galerias.
Informações sobre o Sumida Hokusai Museum
Endereço: 2-7-2 Kamezawa, Sumida 130-0014, Tokyo [Mapa]
Horário de funcionamento: 9h30 – 17h30 (permitida a entrada até 30 minutos antes de fechar)
Aberto todos os dias, exceto às segundas-feiras (e nas terças, caso um feriado nacional caia em uma segunda-feira) e nos feriados de fim de ano (Oshougatsu)).
Taxa de entrada: 400 ienes (Adultos), 300 ienes (idosos e estudantes do ensino médio) e Gratuito para crianças e alunos do ensino fundamental e pessoas com deficiência.
Website: hokusai-museum.jp
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